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Jovens e rebeldia: a onda de lutas toma conta do Brasil

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Por Maria Madalena Nunes, Sindicalista e vice-pres. do PSOL. Especialista em Dir. Humanos

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

O mês de junho de 2013 abriu uma nova página na história brasileira. Milhões de jovens toma conta das ruas e retoma a história nas mãos, exigindo dos governos uma pauta antiga da classe trabalhadora ignorada pelo poder constituído que prioriza sempre a pauta das elites do nosso país.

Ressalte-se, que muitos analistas político-sociais comparam as atuais manifestações à luta pelas “Diretas Já!”, no início dos anos 80, tamanha a sua dimensão. Iniciada em São Paulo contra o abusivo aumento das passagens de ônibus, a marcha da juventude nas ruas é duramente reprimida pela policia militar, que na ânsia de agredir a juventude, espanca e prende vários jornalistas, preparados para desvirtuar e criminalizar o movimento cuja orquestra na grande mídia, sobcontrole da classe dominante, já estava armada: o Estado deve impor a ordem: prender baderneiros e vândalos e desobstruir as ruas, onde já viu impedir o “sagrado” direito de ir e vir? Quem assistiu o recado da burguesia trazida por Arnaldo Jabor, comentarista da Rede Globo, compreende o esforço da grande mídia para criminalizar o movimento.

Não esperavam a reação. De repende milhões de pessoas estão nas ruas de todo país, num marcante gesto de solidariedade à juventude e exigindo direitos dos mais variados e ignorados, até hoje, pelos governos e parlamentares de plantão, ávidos por atender interesses dos capitalistas, os mesmos que financiam suas campanhas milionárias e se apropriam do patrimônio público através das privatizações, terceirização e precarização do serviço público; licitações fraudulentas para beneficiar amigos e parentes; criação de cargos e gordos salários que servem para garantir empregos a cabos eleitorais para suas reeleições; indicação de parentes e aliados políticos para cargos vitalícios, como fez o governador Wilson Martins, ao nomear sua esposa para o Tribunal de Contas do Estado etc.

Os parlamentos brasileiros viraram um balcão de negócios, onde os governos, de todos os partidos, vendem os direitos dos trabalhadores em negociatas com os parlamentares, caso das reformas e privatizações de FHC e da Reforma da Previdência do governo Lula. O trafico de influência no Judiciário os mantém impunes das roubalheiras, mesmo quando condenados, a exemplo dos mensaleiros.

A autoconcessão de aumento salarial faz dos políticos do Brasil os mais bem remunerados do mundo e o governo federal ainda dispensa 50% do PIB brasileiro para pagamento da dívida “eterna” alimentando, assim, o capital financeiro nacional e internacional, completando o pacote com isenção de imposto para os ricos empresários. Enfim, inúmeras falcatruas e benesses que este espaço não nos permite enumerar, mas estão nas ruas, nos inúmeros cartazes trazidos nas manifestações.

Do outro lado, a classe trabalhadora, que sustenta toda essa elite e suas mazelas, continua carente de tudo. Além dos baixos salários, exclusão social e retirada de direitos, tem como recompensa a falência da saúde e educação, sustentáculo de qualquer sociedade. Segurança? Somente para políticos e a classe dominante. A população é obrigada a conviver com todo tipo de violência, inclusive a policial, que espanca, prende e mata, sendo flagrante a confirmação de que somente pobres e negros são condenados, torturados e presos. Não podemos sequer protestar, pois imediatamente a polícia militar, também esquecida e explorada, vem armada com sua tropa de choque na tentativa de nos fazer calar para manter a ordem burguesa.

 A inventada classe média vive atolada no trânsito caótico ou desesperada para registrar o ponto no trabalho e garantir o sustento da família, inclusive o sacrifício de pagar saúde e educação, inexistente no Estado cobrador de altos impostos.

Quem não consegue desafiar essa lógica e ingressar no mercado consumidor, vive a tortura de encarar as péssimas condições do transporte, que deveria ser público, mas serve para engordar os bolsos dos capitalistas e manter a promiscuidade entre o público e o privado, que não oferece nem transporte nem paradas de ônibus dignas. A lógica é: tu garantes minha reeleição e eu garanto teu lucro. A periferia, carente de tudo, é aquietada pelas bolsas de manutenção do poder, pois longe de pretender emancipar a população e libertá-la da sua condição de miséria, prefere controlara, quando a obrigação seria reparar os mais de 500 anos de exploração e exclusão.

Após a frustrada tentativa de criminalizar e denominar os manifestantes de baderneiros e vândalos, a mídia e a direita agora tentam dividir o movimento. Primeiro, jogando os militantes históricos contra os novos jovens lutadores, na falácia dos “sem bandeiras” ou “sem partidos”. Ora, e o partido da mídia, qual será? Será que de repende ela resolveu aderir ao lado dos trabalhadores? Impossível! Tudo que a grande mídia quer é manter-se nas mamatas dos governos, não à toa, uma das palavras de ordem dos movimentos é “ABAIXO A REDE GLOBO, O POVO NÃO É BOBO!”.

Não satisfeitos, tentam jogar os “ordeiros” contra os “baderneiros”. Ora, chega de blá-blá-blá, o recado vem claro das ruas: queremos mudanças! Não as superfiais apresentadas pelos governos e seus comparsas capitalistas, mas mudanças estruturais que ataquem a sustentação dessa política de poucos para eles mesmos. Queremos mudanças que alcancem a sociedade e estabeleçam a JUSTIÇA e a IGUALDADE nunca existentes em nosso país

O povo novo em um movimento novo tende a crescer e a partir da próxima semana reunir em um único movimento, juventude e trabalhadores, com uma única pauta: o fim das mazelas políticas e empresariais e o restabelecimento da pauta da classe trabalhadora e da juventude, que desassistidas do Estado, resolvem dá uma lição da verdadeira democracia.

No dia 11 de julho os trabalhadores estão convocados por várias centrais sindicais a retomar os seus direitos: valorização salarial; redução da jornada de trabalho; anulação da reforma da previdência; investimento imediato de 10% do PIB na saúde e educação; fim das privatizações, do monopólio das comunicações, do imposto sindical e do nepotismo; reestatização das empresas privatizadas; por uma reforma política que ponha fim às manobras do poder para manter-se no poder e que permita ao povo dizer as regras e não aos políticos criarem suas próprias regras.

O governo tenta manobrar. Convoca governadores, partidos políticos e prefeitos ou entidades sindicais e movimentos sociais sob o seu controle, para uma “saída”, mas o que apresenta é uma proposta de “pacto social” com o único objetivo de manter o “status quo”, quando o correto seria a aprovação de uma lei que proíba reeleições intermináveis; crie instrumentos de controle social dos mandatos com possibilidade de revogação; controle de salários e de privilégios dos políticos com imediata redução do número de parlamentares; punição dos corruptos com devolução, em dobro, de tudo que desviou do patrimônio público e a respectiva inelegibilidade; desmilitarização da polícia; municipalização do transporte e passe livre imediato para estudantes e desempregados; financiamento público de campanha eleitoral com proibição de financiamento empresarial e o fim da promiscuidade entre o público e o privado.

A pauta é extensa e concreta, mas os donos do poder se fazem de rogados e tentam enganar com um plebiscito que pretende tão somente o aval da população para continuar com todas as mazelas nos corredores palacianos. O povo brasileiro está nas ruas por transformações reais, demonstrando que apesar do governo controlar várias organizações sindicais, como é o caso da CUT ou aquietar a população carente com a bolsa-família, os jovens rebeldes rompem as fronteiras da passividade e uma onda de lutas toma conta do Brasil. Até a Vitória!