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Ventos de cachorro louco no TRF 3

Por Claudio Klein, servidor do TRF de São Paulo

 

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

Lord, meu vira lata, parou meio assustado no gramado do parque, no meio de uma nuvem de poeira e folhas secas e papeis carregados por um vento forte, incomum. "È o vento norte, vento de cachorro louco", lembrei da frase do meu saudoso avô Ernesto, enquanto um arrepio percorreu minha espinha. Apertei o passo pra casa, arrastando meu dois vira latas com rédeas curtas e sem muita explicação. Obedeceram adestradamente.

Meu avô era um camponês analfabeto, com uma sabedoria muito peculiar. Era capaz de dizer a fase da lua a qualquer momento que lhe fosse perguntado, me ensinou que além da poda das arvores, agosto é o mês que começa a soprar o vento norte, o vento de cachorro louco, ventos fortes que liberava coisas ruins e maldades enterradas inertes, a espera de uma chance de agir.

No caminho de casa, entre as lufadas do vento do norte que enchiam meus olhos de poeira, uma idéia martela meus pensamentos. Ventos estranhos sopram no TRF3, nesse "entardecer" da gestão Newton de Lucca. Procedimentos que, como o vento de cachorro louco, remexem as coisas e fazem aparecer doenças há algum tempo adormecidas. Ventos que estão deixando os que aqui trabalham doentes. Ventos que nos deixam loucos.

O ritmo de trabalho aumentou drasticamente nesse último período. Pressão que vem do CNJ e suas correições inquisitórias. Qualidade hoje é sinônimo de quantidade. Este mês houve um aumento surpreendente na distribuição de processos para o TRF3. Capas cor de rosa dos processos se amontoam pelas mesas e corredores, com pedidos de aposentadoria. Sem concurso, sem novos servidores, não tardou para que os tambores aumentassem o ritmo de trabalho nos gabinetes e turmas.

Um detalhe, como a meta não é julgar bem, mas julgar muito,  há um viés liberal nas sentenças, os juízes, principalmente os mais novos,  são bem mais duros em conceder benefícios previdenciários. Na medida em que há falta de tempo, vai aumentando a  dificuldade em analisar provas e detalhes do processo, o voto passa a ser um “copia e cola” de padrões prontos, na maioria das vezes negando o benefício.

E o ritmo é alucinante.  Houve casos em que a meta passou de 3 ou 4 processos diários por servidor, para uma meta de 6, 8 e até 10 por dia. E é simples assim. Tem que bater a distribuição semanal. É a busca do sistema "Just in time", sem estrutura, mas com um chicote na mão.

O que fica claro nesses processos é que as ordens descem do "olimpo", geralmente do CNJ, sem muito planejamento nem sentido. O primeiro resultado destes rompantes é que reaparecem, das cinzas, como as doenças vindas com os ventos do norte, chefes, supervisores e colegas perversos. O terreno para o assédio moral está preparado. 

A outra coisa foi a volta de um símbolo de humilhação que havíamos enterrado, o tal do "banquinho do RH". Os servidores que trocavam de setor, permaneciam sentados em um banco no corredor do RH, as vezes por meses a fio. Há algumas gestões conseguimos mudar para uma sala reservada, com janela, ramal e terminal de computador. Agora ele volta de outra forma, mas com a mesma essência.  Quem tiver que aguardar uma vaga, deverá ficar em uma sala interna, com vidros, sendo monitorado. Um "aquário". É um símbolo novo que se instala, fruto de uma idéia enterrada e  remexidas por esse vento do norte.

Ventos de cachorro louco. Ventos que cortam as "arcadas" deste Tribunal, endurecendo barbas indiferentes e com outras ocupações e preocupações.

Bem vinda à campanha que o Sintrajud está iniciando contra o Assédio Moral.

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