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O pelourinho e Sheherazade

Por Pedro Aparecido de Souza, dirigente da Fenajufe e do Sindijufe/MT

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

Sheherazade da lenda contava histórias durante a noite para evitar a morte. Sheherazade da vida real conta histórias que atraem a morte.

Rachel Sheherazade não é novidade. É a mesma modalidade feminina de Ratinho e de tantos outros espalhados pelo Brasil com um microfone na mão que fala o que a população mais desinformada ou conservadora, ou com a duas qualidades ao mesmo tempo, quer ouvir.

Repete o discurso fácil do ignorante “Tá com dó? Leva pra casa”. Repete o discurso raso do “direitos humanos é só para bandidos”. E estes discursos são repetidos e vomitados pelos seguidores.

Nada de novo, absolutamente.

Só quero analisar dois pontos da polêmica opinião de Sheherazade no Jornal SBT Brasil quando ela incita a violência através do linchamento sem processo judicial (e nem com processo judicial poderia).

É lindo opinar e mandar descer o porrete e prender um jovem negro e pobre e colocar um cadeado de aço no pescoço em praça pública, imitando um pelourinho. E culpou o jovem negro e pobre que ele era o responsável por tudo. Suas palavras: “É que a ficha do sujeito – ladrão conhecido na região – está mais suja do que pau de galinheiro.”

Essa foi a opinião de Sheherazade.

Mas a mesma Sheherazade é uma covarde e não corajosa.

Ela amarelou quando o criminoso era loiro e rico.

O criminoso loiro e rico é Thor Batista, filho de Eike Batista, na época o homem mais rico do Brasil e o oitavo mais rico do mundo. Thor atropelou e matou o cidadão Wanderson dos Santos. Thor estava em altíssima velocidade e foi condenado pela juíza Daniela Barbosa Assumpção de Souza, da 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias.

Quando Sheherazade comentou e deu sua opinião sobre o criminoso Thor Batista, loiro e rico, ela, pasme, afirmou que a culpa era do carro e das leis que permitem uma pessoa comprar um carro que corre mais do que o permitido!

Ela afirmou, acovardada, medrosa: “Agora uma pergunta: se a velocidade máxima permitida nas rodovias do país é de 120 km por hora, por que a legislação brasileira autoriza a venda de carros super velozes, que seduzem os condutores, e permitem a eles violar uma das normas de trânsito mais vitais?”

Essa foi a opinião de Sheherazade em relação a Thor Batista.

E sobre o Thor Batista? nenhuma linha, nada. Ele era uma consequência das leis mal feitas que autorizam comprar um carro que corre mais do que a velocidade permitida.

Já para o negro e pobre não tem dó nem piedade: é um ficha suja, mais suja que pau de galinheiro.

Thor Batista, o loiro e milionário, não. É legal, é uma vítima das leis.

Portanto, Sheherazade é uma covarde e não corajosa como muitos pensam.

Outro ponto ponto. Incentivou que a população deve mesmo praticar violência com as próprias mãos, sem um julgamento judicial. Mas só para o negro e pobre.

Já para o milionário e loiro Thor, nadinha. Ele é um coitado e vítima.

O negro e pobre não matou ninguém. O milionário e rico matou uma pessoa.

Justiça é isto?

Por que tratamento tão desigual, Sheherazade?

E por último, eu não gosto de Sheherazade. É um direito meu, assim como é um direito dela falar o que ela quiser no programa de televisão. Há uma pequena grande diferença: eu não trabalho em uma concessão pública. Ela trabalha e tem limites para suas opiniões. Mas eu continuo achando que ela deve falar o que quiser.

Mas já pensou se alguém também opine e julgue que ela está cometendo crime e encontrar ela na rua e colocar ela no pelourinho com um cadeado de aço para bicicleta e fizer o mesmo linchamento sem processo judicial?

Seria injusto, incorreto e ilegal.

Ou se fizesse o mesmo com Thor, o milionário e loiro? Será que ela teria a mesma opinião em relação ao negro e pobre?

Sheherazade da lenda, assim como Sheherazade da vida real é matreira. A diferença que enquanto a da lenda era corajosa e e enfrentava  a morte todos as noites, a Sheherazade da vida real é uma covarde.

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