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Sobre o sequestro ideológico das entidades sindicais - 1ª Parte (em: Minha agenda sindical)

Por Job de Brito, técnico judiciário no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

Este não é um texto científico. Há nele, portanto, uma liberdade não permitida naquele: a de especular sobre uma situação por que passamos sem se sustentar em pesquisas de campo com a finalidade de se corroborar suas reflexões. Sua pretensão é a de discutir e não de afirmar o que nele se contém. Nesse sentido, os que discordarem das reflexões aqui desenvolvidas poderão, sem qualquer irresponsabilidade, afirmar que são falsas todas elas. A pretensão aqui é a de discutir a situação e não de disputar as mentes dos leitores em favor de um ou de outro ponto de vista – frise-se: ponto de vista.

Das condições necessárias a serem admitidas para a validade da tese “o sequestro ideológico das entidades sindicais”.

O ponto de partida a viabilizar a análise a ser desenvolvida aqui é o seguinte: a luta original – primeira – dos trabalhadores não foi por igualdade. Sua luta primitiva deu-se em favor de uma maior valorização do trabalho. Há, aqui, a convicção de que o trabalhador jamais tenha demandado e mesmo defendido a igualdade como sua bandeira de luta. Em consequência, há a dedução de que “a agenda da igualdade” tenha sido apresentada ao trabalhador por um outro ator: o intelectual teórico revolucionário.

Admitida a afirmação de que “a luta original do trabalhador não tenha sido por igualdade, mas por uma maior valorização do trabalho”, deve-se investigar a razão de ele não adotar essa agenda, a da igualdade. Aqui, a hipótese é de que “o sentimento de igualdade não é um ‘dado’ da natureza, mas uma inferência teórica”. Correlata a essa hipótese admite-se esta: o sentimento humano natural – aquele com o que o homem se depara nas primeiras manifestações de sua consciência – é o de que “ele é diferente”. A individualização – o processo de reconhecimento de sua individualidade – é possível apenas com a constatação de que se é diferente de tudo e de todos.

Uma outra afirmação a se admitir em favor de que “a luta original do trabalhador não tenha sido pela igualdade” é a de que o homem “ao se reconhecer diferente de tudo e de todos, tenha ‘preenchido’ essa diferença com a qual ele se deparou, na verdade, não com a igualdade, mas com a desigualdade”. Admite-se, aqui, portanto, que a experiência humana original é a de que se é diferente, de que se é desigual e de que, sendo desigual,... se é superior!!! Essa última afirmação a ser admitida é resultado de uma inferência “instintiva”, qual seja, nenhum indivíduo, ao se reconhecer desigual, reconhecer-se-á inferior. A superioridade é consequência natural do instinto de sobrevivência, isto é, de modo vulgar, “farinha pouca, meu pirão primeiro”!

Em suma, o ponto de partida aqui a ser admitido necessariamente para se validar o que segue como reflexão é: a natureza não gera, originalmente, a consciência e o sentimento de igualdade, mas, ao contrário, o sentimento de desigualdade e de superioridade. O indivíduo vê-se o centro da existência, para o que sempre concorreram todas as forças naturais. Sua experiência é a de que, se ele existe, é porque ele é necessário. E, se ele é necessário, então pode servir-se tanto da natureza como do outro, pode servir-se de tudo e de todos para garantir sua existência, uma vez que, como foi dito, sua experiência é a de que ele não foi criado por acaso: ele é necessário.

Para se ir adiante, é preciso, pois, estar-se concorde com esse ponto de partida.

 

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