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O papel do sindicato de servidores públicos

Por Denise Carneiro, servidora da Justiça Federal e coordenadora do Sindjufe-BA

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

Esse artigo está dividido em duas partes: a primeira, abaixo, trata de especificidades da nossa categoria, e a segunda, mais geral – a ser publicada no próximo nº - insere nossa atuação em um palco maior, cenário nacional da luta dos trabalhadores. Servidores públicos também são trabalhadores. Infelizmente essa constatação deixou de ter mão dupla após os servidores serem eleitos pela mídia e governos como o “inimigo público” e essa ideia  moldou os comportamentos ofensivo, dos trabalhadores de fora da máquina pública, e defensivo, dos servidores em um processo histórico que vem alimentando um abismo entre nós, extremamente confortável aos governos e suas relações promíscuas de poder.

Mas, a cada dia, percebemos inexoravelmente de que lado estamos nessa moeda: sempre do lado de baixo, no mesmo lugar dos demais trabalhadores. E apenas a nossa união poderá derrotar o que nos oprime, como previu Marx “a única potência social que os trabalhadores possuem é o seu número”. E, se enquanto trabalhadores, temos um papel estratégico na mudança da lógica do capital mostrando a todos que essa cantada mobilidade social dentro desse sistema intrinsecamente excludente  é apenas um canto de sereia, também enquanto trabalhadores temos necessidades que não poderão ser esquecidas no caminho nem colocadas na prateleira com a ilusão de que serão extintos simultânea e automaticamente com a extinção do capitalismo...

Sim, nós temos necessidades pelas quais um sindicato dito de “vanguarda” também precisa se ocupar. Liberar um “peão” do jugo adversário às vezes pode ser importante na estratégia do xeque-mate. Um sindicato deve minimizar sempre que possível os prejuízos e os pesos a mais colocados nos ombros dos trabalhadores e das trabalhadoras. Nós precisamos viver um dia após o outro, e cuidar de alguns imediatismos também, dentro e fora dos Tribunais, ir às ruas, disputar os discursos, se fazer presente em todos os espaços de poder, dialogar com a institucionalidade se for preciso para arregimentar pequenos avanços para os trabalhadores, cidadãos, grupos chamados “minorias” etc.

Porém, sem perder de vista a luta geral, pois, mais do que “diminuir” a opressão, queremos acabar com ela. Precisamos lutar por saúde, condições de trabalho, programas de prevenção as doenças ocupacionais, por redução de jornada e qualidade de vida, por respeito e contra o assédio moral, por maior atenção à saúde psicológica e emocional, pelo pagamento de passivos que temos direito nos contra-cheques e nos são negados pelos governos, por ganhos indiretos como elevação nos valores dos benefícios etc., inserir no nosso cotidiano o combate a relações coadjuvantes da nossa opressão como o machismo, homofobia, racismo etc., injetar trabalhadores nos espaços institucionais para ter nos parlamentos uma voz dissonante da lógica do poder.

Praticar a democracia de classe é nosso dever. Saber ouvir e respeitar a heterogeneidade característica da categoria a que pertencemos. Como dirigentes contribuir para formação política semeando os avanços necessários, e como servidor, não se descolar do pensamento médio dos colegas para não perder a identidade, base de massa, confiança, e  representatividade entre nossos pares, pois sem uma tática coerente, a estratégia se esvazia na solidão departamental de líderes iluminados. Não apenas a frase: “servidor público é trabalhador” deve ter mão dupla. A frase “o sindicato é dos trabalhadores” igualmente precisa ser provada cotidianamente. Manter viva a relação dialética sindicatoXtrabalhador, de forma dinâmica, trará avanços aos dois lados, pois o primeiro não existe sem o segundo, e o segundo é será ainda mais explorado se o primeiro optar por se omitir das lutas cotidianas.

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