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A embriaguez ética da direita e da extrema esquerda

Por Roberto Ponciano* - 26/10/12

 

Não se entende a classe média, a mídia, a direita e seu discurso "moral" e "ético" sem entender o nosso tempo. André Comte Sponvile, filósofo francês chama a atenção para a mudança de paradigma nesta geração. Se antes havia o primado da política; e a moral e a ética ficavam em segundo plano, hoje, neste bloco histórico (conceito gramsciano da relação entra as estruturas (econômicas e políticas) e superestruturas (pensamento) hodierno, contemporâneo, fica claro a prevalência do discurso “ético”, “moral”, em detrimento da política.

1968 –  O ano que não terminou

Para entendermos este primado da “ética”, temos que primeiro entender a geração imediatamente anterior a nossa, a da década de 60 e seus ideais, cujos representantes, em sua maioria estão vivos, mas cujos ideias estão fora de voga. A década de 60 foi a década das grandes revoluções do pós-guerra: Maio de 68 Francês, Woodstook, Revolução Cubana. Parecia que o mundo caminhava para uma outra sociedade, e o discurso era ou “imoral” ou “amoral”. A fenomenologia, o estruturalismo colocavam a verdade no discurso e a moral não passava de um preconceito pequeno-burguês, o casal da moda, Sartre, Simone de Beauvoir, com seu casamento aberto, parecido com o livro “As ligações perigosas”, era a antítese total à família, ao casamento pequeno-burguês, à moral monogâmica. Atacar a moral burguesa ou pequeno-burguesa seria optar por um imoralismo ou por um amoralismo, trocar a moral de nossos pais por moral nenhuma. A sociedade parecia que seria solapada em seus alicerces, a monogamia, o casamento foram desvalorizados. Foi a época da pílula, do divórcio, da libertação sexual das mulheres, da queima dos sutiãs em praça pública. Woodstook e a ideologia hippie, revivescendo a filosofia de Wilhelm Reich, pregavam o amor de todos para todos e o sexo livre. A Revolução Mundial parecia próxima e os jovens queriam organizar sovietes ou sociedades hippies em todos os países. O experimentalismo, seja no sexo, na política, nas drogas era a palavra de ordem.

Mas, como todo movimento, dialético em sua estrutura, fica a marca da permanência em tudo que é revolucionado. O Maio Parisiense parecia ter ruído junto com o Muro de Berlim. A revolução sexual é irreversível, mas seus excessos foram limitados pela epidemia de Aids e valores antigos como a monogamia e o casamento foram retomados, fora uma forte reação conservadora em boa parte do mundo, valorizando todos os ritos monogâmicos, o experimentalismo sexual da juventude, se não foi limitado, deixou de ser uma ideologia. Para a juventude, militar ou pertencer a um partido passou a ser algo de somenos importância, ou melhor, fora de moda. No Brasil e quase toda a América Latina, a Longa Noite, a Ditadura Militar, juntou a desesperança dos ideais socialistas ao medo e a geração crescida nas décadas 80 cantava que era a Geração Coca-Cola, que eram inúteis e que não sabiam escolher presidente. Que não tinha (como dito na voz de um dos grandes poetas da Geração 80, Cazuza) Ideologia para viver, já que as ilusões estavam todas perdidas.

A Década Neoliberal

A derrota do chamado Bloco Socialista e de todo o movimento social internacional na década de 90 foi tão profunda, que mudou paradigmas. A década de 90 foi a década de ascensão dos Yuppies e da ideologia neoliberal. Fogosamente, diante da derrocada do Socialismo Real, o mundo foi tomado por uma epidemia de valorização do indivíduo, não no sentido humanista, mas no pior dos sentidos, no sentido egóico da satisfação dos desejos de consumo, aliado a um id paranóico e a lei da selva do todos contra todos. Na década de 90, ideologicamente, o mundo é vendido como uma selva, com a lei do mais forte prevalecendo. O desemprego brutal, em massa, coloca os sindicatos todos na defensiva e lutando só contra a perda do emprego, quando não vendidos à lógica do capitalismo e apoiando o neoliberalismo. As privatizações fazem a apologia do lucro e a juventude, em sua grande maioria, passa a ter ojeriza em se organizar em partidos e sindicatos. Começa a se construir um discurso pseudoético, no qual o ser humano é rebaixado a consumidor e se inaugura uma “ética empresarial”.

Como relata Comte Sponvile, não existe ética empresarial, a empresa não tem ética, ela quer é lucro, maximizar oportunidades e extrair o máximo de mais valia. A chamada “ética” empresarial, da qual o mundo está farto, não passa, no fundo, de uma imagem de confiabilidade da empresa para o consumidor da qual ele depende e, com isto, conseguir a fidelização do cliente e o máximo do lucro durante o maior período de tempo possível.

O zênite desta “ética” pululou nos livros de autoajuda que louvam o “empreendedorismo” e o individualismo mais grosseiro e selvagem, transformando o “homem no lobo do próprio homem” e nada mais. A ética do vencedor, que justifica a pobreza na “competência do mais forte” e na “pobreza espiritual” dos menos capazes. A mídia vende  a ilusão do “desemprego estrutural”, informando, no meio da crise, recessão e postos de trabalho que “empregos existem”, os trabalhadores é que não têm competência e formação para ascender a eles, como se formação no capitalismo não fosse uma questão de investimento, algo inacessível para quem está morrendo de fome.
Mesmo na filosofia séria, a desconfiança sobre as formas organizadas de política passa a dar a tônica, com as filosofias irracionalistas, que negam qualquer forma de organização (e mesmo de filosofia, como um retorno à frase hegeliana de que chegamos ao fim da história, assim também a filosofia chega a seu termo), ou quando não negam a existência de uma filosofia como sistema, negam, por sua vez, a participação organizada nos partidos e sindicatos.

A queda do muro de Wall Street e a retomada de foco

Esta é a herança que recebemos, nosso bloco histórico. A desconfiança total nas formas organizadas de participação coletiva (partidos e sindicatos) e a não participação em suas instâncias. Um grosseiro individualismo e um discurso ético que não sai do individual para o coletivo e sua necessária implicação política, constatada como essencial desde Aristóteles e sua defesa do homem como animal essencialmente político. A queda da bolsa de Wall Street, todavia, balança este primado do individual sobre o coletivo.

Fukuyama e os Chicago Boys, e todo seu ideário, entraram em colapso, por conta disto, o “Fim da História” já não é mais uma tese hegemônica, ou mesmo que seja defendida. O surgimento também de um bloco de países latino-americanos que conseguem recuperar suas economias na contramão daquilo que pregava o neoliberalismo, através da solidariedade e da participação ativa dos povos, em contradição com os princípios individualistas e privatistas, cria uma alternativa a esta hegemonia político-cultural, abre passagem a criação de um novo bloco histórico, que visa estabelecer um novo processo sócio-metabólico.

Os sindicatos brasileiros todos, por exemplo, durante o Governo Lula conseguiram, de maneira organizada, aumentos acima da inflação. E, embora não tenhamos a participação política ainda nos níveis das décadas passadas, se vê uma tímida retomada da organização e da luta.

A embriaguez pseudo ética da direita

Toda a longa explicação anterior serve para tentar entender este fenômeno chamado de embriaguez pseudo ético da direita e porque ele consegue atrair pessoas que, por vários motivos, nunca quiseram participar da organização política e da luta, seja em partidos, seja em sindicatos. Em primeiro lugar, o discurso “ético” atrai.

A ética é usada neste momento como falácia de autoridade e destrói preliminarmente qualquer um que queira se antagonizar aos movimentos estilo “cansei”, ou moralismos de direita ou de extrema esquerda, que se apresentam como opção para “limpar o Brasil”. Ora, pensemos no seguinte silogismo.

Premissa maior: Todo homem justo é ético e defende propostas éticas. Premissa menor: Nosso movimento de limpeza do Brasil apresenta uma proposta ética. Conclusão inevitável: Logo, eu como homem justo tenho que defender o movimento “x”, se não serei um canalha.

Preso neste silogismo, a discussão deixa de ser ad argumentum e passa a ser ad hominem. Todo aquele que se opõe aos movimentos messiânicos, estilo udenistas, ou é canalha ou é ignorante.

O problema está na premissa menor, que é um axioma que não foi provado.

São estes movimentos de limpeza do país éticos? Como se erigem os movimentos de “limpeza”, de “luta contra a corrupção” a uma espécie de a priori kantiano, eles não precisam de prova ou debate. Todos estes movimentos passam, de antemão, a serem “éticos”, “justos”, e todos aqueles que se rebelam contra eles passam a automaticamente representar a corrupção e a bandalheira.

Há dois problemas aí. Como nenhum destes movimentos consegue realmente fazer um debate real da ética destituída da política (a ética só pode existir em sua plena acepção no mundo da pólis, ela só pode ser entendida dentro da torção política), como eles viram às costas para a política e não têm objetivos estruturais políticos definidos, todos descambam para movimentos puristas, messiânicos e que tendem ou à extrema esquerda, ou à extrema direita. E isto tem uma razão de ser. Da mesma maneira que a derrota do Bloco Socialista na década de 90 levou à derrocada da discussão política e à embriaguez ética, a construção de um bloco anti-hegemônico no continente Sul Americano e caminhando para a construção de um bloco anti-hegemônico no continente Latino-americano, retirou da direita qualquer projeto sólido de oposição ao projeto de centro-esquerda no continente Latino-americano. Boa parte da extrema-esquerda, presos a esquemas políticos fracassados, embarca na mesma canoa furada para tentar uma sobrevida, já que não tem nenhum projeto concreto alternativo ao neoliberalismo, ou a este novo bloco de centro-esquerda.

Em resumo, o debate “pseudo-ético” surge como uma construção de direita, uma falsa alternativa, para não discutir os problemas estruturais de cada país, mas para criar uma ilusão de alternativa, situando no mundo da pureza a política e transformando a disputa de projetos numa disputa de quem é mais puro e ou casto. Conte-Sponville coloca bem claramente que política é o espaço da disputa e do conflito, o discurso pseudo ético quer fazer da política o espaço da santidade, que Conte-Sponville, mesmo sendo ateu, relaciona ao espaço puramente religioso, naquela parte das religiões que não fazem a disputa na área da política, como na busca da elevação espiritual nos monastérios e ou na caridade.

Efetivamente, de outro lado, é fundamental frisar que os adversários deste discurso falso ético não estão contra a ética na política nem são amorais. Simplesmente sabem que por trás da falsa discussão ética se escondem movimentos ultra-reacionários ou aliados de extrema-esquerda que, em lugar de tentarem discutir as estruturas que possibilitam a existência da corrupção e do desvio, apenas denunciam o galho sem querer podar a árvore. Querer “capitalismo ético” é a mesma coisa que desejar que os lobos passem a ser pastores de ovelhas. Discutir, por exemplo, corrupção em campanha eleitoral não é fazer parte de um espetáculo circense auto denominado “mensalão” (a maior farsa jurídico-político da história do Brasil, Caso Dreyfuss, Incêncio do Reichstag Brasileiro), mas discutir a necessidade imperiosa de se ter eleições limpas, através do financiamento público de campanha.

No Brasil, com financiamento privado de campanha o grande problema não é o dinheiro não declarado, ou o chamado “caixa 2”, é uma falsa questão ética, já que o dinheiro declarado, este já é sujo em sua essência, já que o financiamento eleitoral privado é feito por bancos, latifúndios, empresas de saúde privada, empresas de seguro de previdência, empresas de ônibus. Desviar a discussão para o “caixa 2” e a farsa do mensalão é deixar intocada a estrutura eleitoral que elege 300 das 500 campanhas mais caras, todas pagas pelas grandes empresas privadas que comandam o Brasil. Desviar a discussão ética da discussão estrutural política de mudanças profundas no Brasil, que dependem fundamentalmente, por exemplo, da reforma política, é fazer o jogo da direita mais conservadora, que efetivamente quer reduzir a ética a um jogo jurídico de “culpados” e “inocentes”, sem tocar na estrutura corrupta em si do sistema.

Os movimentos estilo “Cansei”, ou moralistas de extrema-esquerda de candidatos “puros”  não são éticos por sua natureza

Estes movimentos messiânicos de extrema direita ou de extrema esquerda não são éticos por natureza. Isto acontece quando questões políticas, como a discussão da reforma eleitoral urgente, com financiamento público de campanha, ou Reforma do Judiciário, com a democratização do STF, são desviadas do seu curso natural, que é a livre discussão política. Estes movimentos pseudo éticos são apenas a reação da extrema direita e da extrema esquerda à perda de representatividade política dentro da sociedade brasileira e a falta de projetos factíveis para a sociedade. Livre do pré-conceito, da falácia de autoridade dos antagonistas ao novo Bloco Histórico que emerge na América Latina, é que só podem se posicionar como neobobos pseudo-éticos, na  falta de qualquer projeto político, é necessário dizer que não há santos na política, nem de um lado, nem do outro. Isto não nos leva ao discurso contrário, ou que querem nos enfiar goela a dentro que “político é tudo igual”, ou que todos os políticos são desonestos, corolário necessário dos movimentos puristas, messiânicos e pseudo-éticos, que acabam reduzidos à sacralização de figuras como Joaquim Barbosa ou Marcelo Freixo, e nem é objetivo deste texto discutir a pureza ou a santidade destas figuras. Apenas deixar claro que aqueles que se opõem ao projeto neoudenista frisam que o problema fundamental do Brasil não é a “honestidade”, até porque não há paquímetro para se ficar medindo individualmente a honestidade de ninguém, honestidade é o mínimo que se deve cobrar de um político, sempre, mas não se deve elegê-lo simplesmente porque ele é honesto.

Nunca se deve eleger um político corrupto, isto é um axioma que defendemos, e o Bloco Histórico anti-hegemônico que se construiu na América Latina deve ser o mais ético possível, mas a discussão que devemos levar para as urnas é outra: Reforma Agrária, Auditoria Cidadã da dívida, soberania nacional, reestatização do petróleo, saúde e educação pública de qualidade para todos, Reforma Urbana, Reforma Política com financiamento público de campanhas. Alguém notou que todas estas propostas, que abrangem menos de 1/10 de tudo que devemos defender são propostas puramente políticas? Que existem e podem existir dezenas, talvez centenas de candidatos reacionários, de direita, ou de extrema-esquerda sem proposta, mas honestos? A disputa política não é a disputa de quem é mais santo, não é uma disputa messiânica de nomes, mas uma disputa de projetos políticos. Nesta disputa a ética deve permear as nossas candidaturas, mas o projeto é em sua essência político. A disputa não é em torno de quem é ou quem não é corrupto, até  porque, muitos dos paladinos da moralidade, à direita e à esquerda, são corruptos até a medula óssea, mas sim, que projeto pode mudar a estrutura do Brasil, inviabilizando inclusive, estruturalmente, a corrupção. Ou alguém é capaz de negar os avanços feitos em transparência nos Governos Lula e Dilma? O Brasil não está mais corrupto que antes, a cobrança da sociedade que está mais organizada é maior, e os mecanismos de transparência são melhores, viabilizando denúncias e investigações que antes eram represadas e ou engavetadas.

Todavia, há a corrupção legalizada, que começa pelo financiamento privado de campanha, legal, portanto “ético”, continua nos grandes lobbies de bancos, latifúndios, bancada evangélica e católica conservadora, empresas de saúde, tudo legal e portanto, na falsa ética udenista, seriam “éticos”, porque não quebram nenhuma regra legal.

Colocar a ética no respeito a leis, leis estas conservadoras e mantenedoras do status quo, reduz a ética ao papel calhorda de justificação do sistema. A ética é algo bem maior do que isto e se situa no espaço de disputa de uma nova sociedade. Que ethos, que projeto de novos homens, de novo bloco histórico e de novos agentes coletivos necessitamos para mudar o Brasil? Esta é uma verdadeira discussão ética, que inclusive tem de enfrentar a questão da ruptura com atitudes subversivas em política e que vão para além da legalidade institucional e burguesa. No campo meramente legal da ética do “bom mocismo” ocupar latifúndios para se fazer Reforma Agrária é ou não ético? Com certeza, para o campo conservador do “Cansei” isto não seria ético, para quem quer mudar ou transformar a viabilização e inclusive o financiamento do movimento de luta pela terra no campo é em essência ético, tendo que necessariamente ultrapassar os marcos legais impostos a nós pelo capitalismo.

Frisamos, como conclusão, que o fato disto, todavia, não levar à conclusão inversa, bem, se não há santos, então, há canalhas. Nada disto. O mundo não é habitado por santos e se o é, eles devem discutir o mundo espiritual, o futuro em uma outra vida provável, e não a estrutura política do Brasil. Esta é apenas uma discussão política.

Destituída de sua auréola de santidade, a discussão passa a ser apenas e tão somente dos projetos em luta no Brasil. Eu, politicamente (e não eticamente, esta não é uma discussão ética) estou convencido de que o atual projeto que governa o Brasil é progressista, porque é potencialmente anti-hegemônico e fez mudanças estruturais importantíssimas. Isto sem preconceito ou ataques ad homines, mas defendo até o fim o direito de os companheiros defenderem o contrário, sem este argumento falacioso que a questão principal do Brasil é ética. Na premissa falaciosa colocada é exatamente isto que precisa ser provado!

Na verdade, quem defende estes movimentos messiânicos, de direita ou de esquerda, os defende por motivação puramente política,  mas necessita usar do discurso ético, já que vimos que é um discurso que está em voga na atual falta de politização da sociedade e na falta de um projeto definido tanto pela direita, quanto pela extrema esquerda messiânica.

Por que os movimentos pseudo-éticos cativam a imaginação da classe média despolitizada?

Somos uma geração pós-revolucionária. Não pela ditadura militar de 64, que não foi uma revolução, mas por sermos a geração pós Maio de 68, pós Woodstook, pílula e revolução sexual e, por outro lado, fomos educados no pós-ditadura, com o medo de nossos pais, e na “ética” do individualismo.

Os sindicatos e partidos políticos sobrevivem e lutam, em meio a uma onda de descrença. Participar de um sindicato ou partido político é remar contra a maré. É retomar o discurso político contra o discurso individualista, então, o preconceito, a visão deturpada do que seja o político e o sindicato grassam no senso-comum.

No discurso pseudo-ético, a política é a terra da desonestidade, as formas de organização política são más e não há escape para quem participa nelas. Ora, qualquer forma de organização que se faça à margem dos sindicatos, partidos políticos e seus “complicados” ritos democráticos (assembleias, plenárias, congressos, discussões exaustivas) fará um relativo sucesso.

Imagine então, um movimento que ataca a forma de organização política, que promove    o rebaixamento da política a uma discussão de quem é honesto ou desonesto, a uma busca de um purismo episcopal não participativo. É tudo que esta geração aprendeu, não participar, não se organizar, não ter compromisso, não ser coletivo.
Por que o desgaste de um piquete ou de uma passeata? Por que o esforço de uma organização política permanente na qual se perdem preciosas horas da vida? Por que se organizar e perder horas preciosas de fala tentando convencer e ser convencido, quando há uma série de diversões e entretenimentos individuais julgados por muitos como mais importantes?

Parte-se de um a-priori “ético” e se atacam todas as verdadeiras formas democráticas de participação política real em sindicatos e partidos políticos. Assim, uma manifestação com vassourinhas para cima, de um punhado de gente da classe média vale mais que a vontade popular de milhões, depositada nas urnas, num projeto de mudança lento e necessário, simbolizado pelos dois últimos governos, Lula e Dilma, representantes no Brasil do bloco anti-hegemônico latino-americano.

A criminalização da política, a ideia de que "todos são iguais e corruptos", só ajudam a quem deseja conservar, manter as estruturas arcaicas de Governo e a dominação no Brasil. Ética não é esse burburinho de manipulação midiática e marginalização da política, despolitização das massas. Necessitamos de uma outra ética, que efetivamente lute por estruturas diferenciadas, com financiamento público de campanha, criminalizando o financiamento privado, com voto em lista, proibindo a troca de partidos, para o fortalecimento de uma democracia representativa de ideias, e estes não são os objetivos dos movimentos de direita pseudo éticos. Ou os entendemos e compreendemos que a ética é determinada pela política e não o contrário, ou não conseguiremos vislumbrar uma política de mudanças que altere as estruturas tão desiguais de nosso país.

*Roberto Ponciano é diretor do Sisejufe-RJ e mestre em filosofia, com especialidade na área de ética com a dissertação “Para uma ética do Devir em Marx”.

 

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