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Os riscos das obsessões da presidente Dilma

Por Antônio Augusto de Queiroz

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

Desde que assumiu a presidência da República, a presidente Dilma Rousseff tem feito um esforço sincero para superar a miséria e promover o crescimento econômico do País, com várias medidas de impacto. Dois temas, entretanto, tem sido sua verdadeira obsessão: o investimento produtivo e o controle da inflação.

Para viabilizar os investimentos já fez algo inimaginável: abriu ao setor privado as áreas de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, desonerou a folha de vários setores da economia, reduziu o superávit primário, fez uso da contabilidade criativa em várias operações, incentivou novas linhas de crédito com juros subsidiados e ainda poderá autorizar a venda de ativos da Eletrobras e da BR-Distribuidora.

No combate à inflação, desde que conseguiu o feito de alterar a remuneração da poupança e criar as condições para baixar os juros, não pensa em outra coisa, senão no risco de que eventual alta da Selic que possa desmoralizar um de seus principais legados, que é a taxa de juros de um dígito só.

Para manter a inflação sob controle, depois de desacelerar a econômica e valorizar o cambio em 2011, Dilma já baixou a conta de luz, diminuiu impostos sobre os combustíveis, atrasou o aumento da gasolina e do diesel, pediu a prefeitos e governadores que não reajustassem a passagem de ônibus e de metrô, desonerou a cesta básica. Poderá, ainda, retirar os tributos do setor de transporte e da industria química e petroquímica, do óleo diesel, do etanol, de medicamentos e até de querosene de avião. Tudo isto preocupada com a inflação.

A presidente também já percebeu que o Banco Central está indócil com a persistência da inflação e, para mantê-la dentro da meta, poderá decidir por aumentar a taxa Selic. O BC teria dupla motivação para tanto:  inverter a tendência de retomada da inflação, como forma de impedir que ela ultrapasse o teto da meta, e mandar um recado para o mercado de que dispõe de autonomia operacional.

As medidas adotadas até agora, algumas delas com reflexos positivos sobre os assalariados – como a própria Selic baixa, a redução do custo de energia e da cesta básica – terão pouco significado eleitoral se a inflação voltar a subir ou, para contê-la, o BC tiver que aumentar a taxa de juros.

A situação da presidente, em face da antecipação do debate sucessório, é de quase refém, porque a sustentação de seus principais legados (juros baixos e inflação sob controle) é vulnerável a movimentos especulativos de determinados setores da economia, que tanto podem aumentar preços quanto fugir dos investimentos, pelo menos até que o governo esteja disposto a fazer novas concessões, como a flexibilização de direitos trabalhistas, por exemplo.

Nessa perspectiva, a divisão da base de sustentação, que busca tirar proveito desse momento, condicionando o apoio ao atendimento de seus pleitos, inclusive na ocupação de cargos no governo, é muito preocupante.

Outra preocupação é que o governo, para conter a inflação e incentivar o investimento, tem se valido basicamente de ações fiscais, com renúncias e incentivos monetários e creditícios, e os recursos são limitados e finitos. Se não houver uma reação rápida, tanto em termos de crescimento do PIB quanto na desaceleração da inflação, o governo pode perder o controle dasituação e virar refém das chantagens e pressões da base aliado e do setor empresarial com capacidade de investimento.

E o que fica evidente nesse quadro é que o governo, que esteve distante dos movimentos sociais, em particular do sindical, depende muito da boa vontade do setor empresarial e da base aliada, exatamente os segmentos que mais têm feito exigências e reivindicações para apoiar as medidas da presidente Dilma voltadas para retomar o investimento e controlar a inflação.

A percepção que se tem é que a presidente tem ouvido ou se aconselhado com pessoas que só dizem “amém”: os auxiliares diretos, que morrem de medo da reação a eventual divergência; os empresários, que sempre tem interesses específicos a serem atendidos e não vão contrariar o governo; e parlamentares, que concordam com a presidente em qualquer assunto, desde que atendam a suas reivindicações. Isso, combinado com o excesso de confiança da governante, que tomou gosto pelo exercício da autoridade, pode resultar em erros táticos que facilitem a campanha da mídia e de parcela de empresarial em favor de candidaturas alternativas, da base ou da oposição.

O governo, em geral, e a presidente, em particular, precisam ter muita certeza de que seus movimentos são classificados como “domínio de território”, ou seja, que são sustentáveis e sem riscos de recuo. Para tanto necessita ampliar o escopo de conselheiros, de preferência interlocutores independentes, que tragam uma visão critica sobre o governo. Por que do contrário, se der errado, a vaca pode ir para o brejo, com a perda de controle sobre o processo sucessório.

(*) jornalista, analista político, Diretor de Documentação do Diap, colunista da revista “Teoria e Debate” e autor dos livros “Por dentro do processo decisório: como se fazem as leis”, “Por dentro do governo: como funciona a máquina pública”, “Perfil, Propostas e Perspectivas do Governo Dilma” e “Movimento Sindical: passado, presente e futuro”.

 

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