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Na ampliada Fenajufe, painelistas traçam cenário da conjuntura nacional ante o cenário de crise

Dirigentes sindicais e servidores do Judiciário federal participam em Brasília neste fim de semana (16 e 17 de maio), da reunião Ampliada da Fenajufe. Os trabalhos tiveram início às 15h30 com a apresentação de dois painelistas: o professor do Instituto de Economia da Unicamp e membro do Conselho Editorial do Correio da Cidadania, Plínio de Arruda Sampaio Júnior e o diretor da CUT do Rio Grande Sul, Marcelo Machado Carlini. A condução dos trabalhos ficou a cargo dos coordenadores da Fenajufe Adilson Rodrigues e João Batista Moraes Vieira, com apoio da secretária política da Federação, Eliane Mendes.

Em sua apresentação, Plínio de Arruda fez uma análise da atual proposta de ajuste fiscal do governo brasileiro frente a crise econômica mundial iniciada por volta de 2007. O professor avalia que as medidas apresentadas apenas ajustam a economia brasileira às novas exigências do grande capital norte-americano. 

No entendimento do economista, o Brasil enfrenta agora o efeito “passar o mico”, referência o Jogo do Mico nas cartas, que ele usa para descrever o mecanismo de transferência dos problemas econômicos adotado pelos Estados Unidos, Alemanha e China. Para exemplificar, ele cita a crise da Alemanha, transferida à Grécia e a crise da China, transferida à “periferia da periferia”, o que acabou atingindo o Brasil. 

Plínio vai mais fundo. Para ele, os efeitos da crise no longo prazo é um processo lento de reorganização da economia e, principalmente, de reorganização social, afetando profundamente a classe trabalhadora e a tensão capital x trabalho. 

Ao finalizar o painel, Plínio Arruda apontou como solução de enfrentamento aos ataques sofridos pelos trabalhadores frente a pauta conservadora adotada pelo Congresso Nacional e governo federal, passa necessariamente pela unidade da categoria, pela disposição de lutar e pela consciência operária. 

O segundo painel da tarde foi apresentado pelo diretor da CUT/RS, Marcelo Machado Carlini, que fez também fez a análise conjuntural do momento que passa o país. Sempre enfatizando a necessidade da união de toda a classe trabalhadora, Carlini apontou a divisão clara de perfis dos manifestantes que recentemente foram às ruas protestar, de um lado atos com bandeiras americanas e faixas pedindo a volta dos militares de outro os sindicatos exigindo o fim das MPS 664 e 665, contra o PL 4330 (terceirização) e a reforma política.

O painelista alertou que há uma ofensiva do pensamento conservador no Brasil. Seja a partir de projetos como o da redução da maioridade penal, a “contrarreforma” política de Eduardo Cunha (presidente da Câmara) e a tentativa de acabar com o regime de partilha do pré-sal. Carlini também destacou o perigo de propostas embutidas em dois projetos que tramitam no Congresso.  O primeiro acrescenta à Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, princípios do programa “Escola Sem Partido”, retirando totalmente a autonomia do professor em sala de aula para trabalhar questões como participação social e ações coletivas junto aos alunos. 

Outro risco apontado por Carlini diz respeito ao projeto que altera a Lei Orgânica da Magistratura (LOMAN), cuja minuta está em debate no STF. O projeto, na avaliação do sindicalista, concede uma série de benefícios aos magistrados que os tornarão uma elite totalmente isolada na sociedade e ainda aumentará o fosso existente entre a Justiça e povo.

Carlini destacou a necessidade da unidade de toda classe trabalhadora e convidou todos os sindicatos a se engajarem na preparação das atividades do dia de paralização convocado pelas centrais sindicais para o 29 de maio. Para ele, a luta contra o ajuste fiscal, as MPs e o PL 4330 deve ser tocada ao lado do combate pelo reajuste salarial dos trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU. 

Interação 

O clima esquentou quando foi a vez da Plenária se manifestar. Como esperado para um ambiente democrático que se fundamenta na pluralidade de ideias, as críticas vieram e foram muitas. Principalmente à atuação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) por sua proximidade ao governo, segundo a opinião de alguns participantes. Plenaristas vindos de todo o País se manifestaram, provocando toda forma de manifestação ante suas exposições, críticas e elogios. 

Já no segundo bloco Carlini destacou a necessidade de “por abaixo o Plano Levy”, apontando que a politica de juros altos, corte de gastos e investimentos e concessões é o caminho do desastre para o Brasil. A CUT tem sido protagonista na exigência do governo Dilma de outra política, que garanta o crescimento e a distribuição de renda, taxando as grandes fortunas, a herança e o controle de fluxo de capitais. Entretanto, salientou que a CUT não é ingênua e não faz coro com o golpismo alimentado pelos “coxinhas” e “tucanos” a serviço, segundo ele, do imperialismo.

A atividade da plenária foi elogiada por Plínio de Arruda que, em suas considerações finais, alertou que uma central que recebe pressão do Planalto não pode ser uma central trabalhista, referindo-se à relação entre a CUT e o governo. Imediatamente integrantes da plenária defenderam a central, bradando que ela foi pressionada, mas não aceitou a pressão. O embate se referiu à tentativa do governo de desmobilizar a manifestação organizada pela CUT em março. 

Enfático, Arruda terminou sua participação na Ampliada da Fenajufe lembrando o sociólogo Florestan Fernandes, que tratou em sua literatura da segregação social vivida no Brasil. O economista se colocou radicalmente contra qualquer tipo de golpe que vise à deposição da presidente Dilma Rousseff. Mas também deixou claro que ela, Dilma, não pode também dar golpe, se referindo aos compromissos assumidos em relação aos direitos trabalhistas na campanha eleitoral.

 

Da Fenajufe, Luciano Beregeno

Fotos: Joana Darc Melo/Fenajufe

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