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CONJUNTURA
A Situação Mundial
No limiar do século XXI, o
imperialismo está impondo aos países menos desenvolvidos um retorno a relações
do século XIX, uma recolonização das nações dependentes. Da mesma forma, o
ataque aos direitos dos trabalhadores está fazendo a roda da história girar
para trás, não só em relação às conquistas do pós 2ª guerra mundial (o
chamado estado de bem estar social), mas também do início do século XX,
como o direito ao vínculo empregatício, férias, etc.
Ao mesmo tempo, depois de
muitos anos de confusão e retrocesso na consciência classista e
internacionalista dos trabalhadores e da juventude, provocado pela crise e queda
de parte dos países socialistas, voltam a ocorrer grandes lutas
anti-imperialistas.
Nas ruas de Seattle (novembro
de 1999) assistimos à luta de algumas dezenas de milhares de ativistas que
bloquearam a reunião da OMC. Começava ali uma série de mobilizações
internacionais, que seguiriam em Washington (abril de 2000), Praga (setembro de
2000), e em Porto Alegre com o Fórum Social Mundial (janeiro 2001). Todas com
um questionamento direto das instituições chaves da globalização: o FMI, o
Banco Mundial, a OMC. A contestação anticapitalista começou a ganhar
novamente uma visibilidade mundial aos olhos de um grande setor de vanguarda e
de massas. Este é todo um símbolo, que pode significar o marco de uma nova
situação política mundial.
A Crise Econômica Chegou aos EUA
Em primeiro lugar queremos reivindicar as resoluções
aprovadas na VIII Plenária Nacional da FENAJUFE, realizada entre os dias 3 e 5
de novembro de 2000, em Belém do Pará. O
mundo capitalista observa um contínuo declínio das atividades econômicas há
mais de três décadas. Encerrando os chamados trinta anos gloriosos em
meados dos anos setenta, a economia capitalista global mergulhou numa séria
crise de superprodução de capital, a qual ainda não logrou superar. Mesmo
verificando-se alguns períodos de expansão, o quadro característico é de
crise econômica, com queda constante de atividades produtivas. Nessas três décadas,
têm-se constatado ciclos de crescimento combinado com depressões de magnitude
relevante. Em 1997, houve um pico de crise. Em seguida, pequenos ciclos de
expansão. Hoje, novo declínio econômico. Nesse vai e vem da economia,
predominam as conjunturas de depressão e crise.
As
causas desse fenômeno estão no interior do próprio modelo. Segundo as leis de
desenvolvimento do modo de produção capitalista, periodicamente há um
descompasso entre a produção e a realização (venda) dessa produção. Isso
gera as chamadas crises de superprodução ou sobre-acumulação de capital que
jogam as economias em crise geral e global. As economias capitalistas centrais
permanecem em contexto de crise (...), não conseguindo superar a desproporção
entre produção e venda de capital. As taxas de crescimento seguem muito
baixas, quando não negativas, gerando estagnação, desinvestimentos, queda da
atividade econômica e desemprego entre milhões de trabalhadores.
Os dados mais recentes indicam
uma forte desaceleração da produção industrial dos EUA no último trimestre
de 2000, chegando a perto de zero porcento de crescimento no início de 2001. A
crise já não é apenas uma hipótese, mas uma realidade admitida por todos,
com três hipóteses de evolução: uma crise rápida com uma retomada já no
segundo semestre, que na realidade concentra a esperança de todos os defensores
do capital; uma evolução lenta para
baixo, semelhante à da economia japonesa, que esteve estagnada durante toda a década
de 90. Esta hipótese é levantada não só por economistas marxistas, mas por The
Economist, uma das revistas mais respeitadas da área de finanças
imperialistas.
Abertura de uma depressão semelhante à de
1929.
A primeira hipótese, de uma
crise pequena e superficial existe e não pode ser descartada devido à enorme
supremacia norte-americana, que pode queimar capital em muitas partes do mundo
para escapar da crise em seu centro. No entanto, não é a mais provável,
exatamente pela dimensão do crescimento alcançado e das contradições
acumuladas.
Tanto a segunda como a
terceira hipótese ligam a crise cíclica que está se abrindo com o detonar da
gigantesca bolha financeira acumulada em todos estes anos de crescimento parasitário
e especulativo no centro financeiro do mundo, em particular na Bolsa de Valores.
A semelhanças com a etapa pré-29
são muitas. Até nas ideologias criadas (fim das crises, nova
economia, etc.) entre 1925 e 1929 as ações triplicaram de preço nos EUA.
Entre 1982 e 1990, o índice Dow Jones subiu desenfreadamente de 1.000 ao
recorde de 11.000 pontos. As ações da RCA, a Microsoft da época, evoluíram
de US$ 1 a US$ 573 de 21 a 29. Em algum momento a valorização artificial desta
gigantesca soma de capital fictício tem de se desvalorizar.
Neste momento não podemos
apontar entre as duas últimas hipóteses, qual a mais provável. Ambas teriam
uma enorme importância política para todo o mundo. Uma crise longa do centro
da economia mundial jogaria na fogueira toda a recuperação econômica que está
em curso no Sudeste Asiático, que depende das vendas para o mercado
norte-americano. Um processo semelhante ocorreria na Europa. O Japão já está
vivendo novamente uma recessão, acompanhando os EUA.
Uma esteira de crises nos países
dominados pode ser prevista. Agora sem a proteção dos investimentos do FMI,
que serão insuficientes para cobrir todas as crises. A reação do imperialismo
não será outra que não a de buscar descarregar sua crise sobre os ombros das
nações oprimidas e dos trabalhadores. Isso significa ampliar as pressões para
impor o ALCA, reforçar os controles do FMI sobre as economias dependentes, etc.
No caso de ocorrer uma depressão,
as conseqüências sociais e políticas não são fáceis de serem previstas
aqui. Basta dizer que a crise de 1929 abriu toda sorte de comoções sociais,
que não só colocaram possibilidades para os revolucionários, como geraram
espaço para o surgimento do fascismo.
Para recompor sua taxa de
lucros, o imperialismo do século XXI impõe relações do século XIX aos
trabalhadores e nações oprimidas do mundo. No entanto, pode fazê-lo sob as
bases de derrotas momentâneas dos trabalhadores e dos povos, que agora serão
novamente questionadas. Em sua ofensiva, o imperialismo também destruiu mediações
importantes para a contenção de processos revolucionários, como a expectativa
de progresso contínuo da aristocracia operária européia (agora abalada pelo
ataque generalizado às suas conquistas), e os próprios laços reformistas do
estado de bem-estar social.
O mundo pauperizado do século
XXI vive essencialmente em condições urbanas, ao contrário do século XIX, o
que facilita a abertura de processos revolucionários. A polarização social
está chegando a níveis inéditos na sociedade capitalista e grandes barris de
pólvora estão se gestando.
A crise capitalista não é
apenas mais uma crise cíclica, mas a decadência de todo um modelo de dominação
e isso pode ser o início da reversão de uma brutal ofensiva imperialista. Mais
do que isso: está se abrindo um novo período de mobilizações sociais que
pode levar a novos picos de lutas que permitam vitórias para os trabalhadores
de todo o mundo, abrindo caminho para construção de uma nova sociedade - que
para nós só pode ser a socialista.
A América Latina Vive uma Recolonização
O traço mais marcante, do
ponto de vista estrutural, destes últimos anos na América Latina é o fato
dela estar envolvida em um movimento que ameaça modificar as relações do
conjunto do subcontinente com o imperialismo, em particular com os EUA. A esse
processo de modificações estruturais, econômicas, políticas e militares,
chamamos Recolonização. Falamos de recolonização,
pois se trata de um movimento de alcance estrutural que pretende colocar as
economias locais no nível de subordinação do século XIX e com certos traços
mais profundos ainda.
O processo mais recente
das novas Maquiladoras é uma
expressão de uma forma que não é nova, mas sim da volta dos tempos de saque
do capitalismo mercantil. Este mecanismo se assemelha muito às Plantation,
que foi o traço característico da colonização européia na América. O
objetivo central é utilizar a força de trabalho em condições subumanas para
absorver o valor incorporado por esta mão-de-obra. Esse mecanismo também
recorda a acumulação primitiva apoiada na escravidão dos séculos XVI ao
XVIII.
A recolonização não tem
outro significado que o incremento da extração da mais-valia do conjunto das
economias semicoloniais, trazendo no seu bojo, portanto, um aumento da dominação
imperialista em todos os terrenos (econômico, político e militar).
Particularmente desde o começo
dos anos 90, a desnacionalização das
economias mostra o grau de dependência do imperialismo.
A ofensiva recolonizadora
tenta transformar a burguesia nativa de sócia menor do imperialismo em gerentes
das empresas deste, e os governos e instituições em fantoches do imperialismo,
em seus administradores coloniais.
A
desnacionalização é a característica mais marcante do processo de recolonização.
Não foram suficientes os planos de fome e miséria a serviço da dívida. O Plano
Brady marcou um ponto de inflexão nesta ofensiva recolonizadora encabeçada
pelos EUA. Os bônus eram trocados pelo pagamento dos juros da dívida, tendo
como aval o Tesouro norte-americano. A adoção desse Plano pelos governos
latino-americanos ia acompanhada dos processos de privatização e
desregulamentação em todos os níveis. De conteúdo, troca-se o pagamento da dívida
por ações das empresas, orquestrando assim uma autêntica espoliação da
propriedade, um autêntico golpe de acumulação de capital.
As privatizações
e as fusões/absorções se transformaram no mecanismo mais comum pelo
qual as multinacionais vão se apossando das indústrias e empresas nacionais,
desnacionalizando-as e modificando assim, paulatinamente, a estrutura produtiva
do subcontinente. Em alguns casos, levam à destruição de forças produtivas,
fechando fábricas ou setores de produção, ainda que esse processo se
diferencie de país para país.
A
dívida externa se multiplicou por dez desde
1975 e triplicou em relação ao valor de 1980. Passou de US$ 439.700
milhões, em 1990, para a astronômica cifra de US$ 697.800 milhões, em 1998. A
entrada de bancos poderosos, que controlam 18% da dívida, drena ainda mais os
capitais nacionais. O processo de desnacionalização e dependência teve na
invasão do capital financeiro internacional uma de suas expressões mais nítidas.
O processo de dolarização
da economia latino-americana remonta a várias décadas. Não é, em certo
sentido, um fato novo. Tanto as transações comerciais como as contas de poupança,
depósitos, etc. vêm sendo feitos em moeda norte-americana. O dólar é moeda
de circulação comum em pagamentos e compras na maior parte dos países
latino-americanos e em alguns deles (em especial, por sua relevância, na
Argentina) a moeda foi ancorada no dólar mediante o estabelecimento da
paridade. Esse quadro desenha por si mesmo um grau de dolarização da economia
latino-americana próprio de uma relação que supera a relação semicolonial.
A novidade nos últimos anos é que esse processo não só continuou se
difundindo, mas avançou qualitativamente, com o início da supressão das
moedas nacionais para adotar o dólar. Esse salto mostra tanto o grau de
recolonização como o nível de submissão das burguesias latino-americanas.
A
burguesia latino-americana atua cada vez mais como administradora colonial.
O próprio Estado e o patrimônio nacional passam a ser entregues às
multinacionais. O processo de privatizações e fusões, que está na base do
atual saque, está rodeado de todo tipo de facilidades jurídicas, econômicas e
trabalhistas para que as multinacionais possam otimizar seus
investimentos. Desse modo, dos ajustes conjunturais passou-se aos ajustes estruturais, sob a disciplina direta do FMI e das
multinacionais. Nesta organização, os órgãos de Governo passam a estar
vinculados diretamente ao imperialismo como se tratasse de administradores
coloniais. O FMI assumiu a condução
cotidiana da área econômica dos Governos.
Os
dirigentes das instituições federais são hoje agentes diretos dos bancos
norte-americanos. Vêm dos postos nos bancos de seus senhores para seus novos
postos nos bancos centrais. São expressão disso os Fraga (do Brasil) ou os
Cavallo (da Argentina).
A submissão completa aos
ditames do imperialismo se expressa, de forma geral, em todos os tratados
chamados de livre comércio, dos quais participam: o NAFTA, a ALCA, incluídos
os assinados entre os países da área, e o MERCOSUL. Trata-se, com variantes de
menor importância, do desmantelamento de qualquer norma de proteção das
economias, a serviço da penetração das multinacionais.
O
papel dos parlamentos, tribunais, etc, reflete não só a submissão do Governo
de turno, mas a relação da burguesia nativa com o imperialismo. Implementam
mudanças nas próprias constituições nacionais sempre com o objetivo expresso
de garantir as melhores condições para a valorização do capital monopolista
e eliminar tudo que dificulte a liberdade do capital imperialista ou que o
desestabilize. A desregulamentação
transforma-se na palavra-chave. Aceitam leis sobre patentes que impedem o desenvolvimento de qualquer tecnologia
nacional e ainda assim engolem todas as exigências absurdas das multinacionais.
Desenvolvem reformas tributárias
destinadas à isenção fiscal das grandes companhias.
Incrementaram as políticas no
sentido de oferecer mais facilidades para a instalação e ampliação das
multinacionais, ajudas com fundos do Estado, melhoras infra-estruturais a cargo
do erário, etc. A tal ponto que se declararam guerras de submissão não só
entre estados nacionais, mas também entre estados federais como no Brasil.
A
corrupção se transformou num problema político de primeira ordem. Esteve
na base dos escândalos que derrubaram presidentes, governos, abriram crise de
regimes e alentaram insurreições. Algumas cifras estimativas assinalam que, na
América Latina, a corrupção custou para a região, nos últimos 25 anos, US$
600 bilhões. A corrupção e o Estado constituem, na atual etapa de decadência
do sistema capitalista, um binômio inseparável.
O
próprio imperialismo, ao contrário do que alardeia com o discurso da
transparência, é parte importante deste processo, como se demonstra nas
privatizações. Tendo em vista que sua função é saquear o patrimônio, ele
usa a corrupção como forma de garantir o melhor e ganhar, para assegurar seus
interesses no leilão, a confiança dos setores que estão no comando dos
estados. Por isso, em casos como o da compra dos votos dos senadores da
Argentina para garantir as leis que o FMI encomendou, ou o da privatização do
setor de telecomunicações do Brasil, vê-se a mão imperialista por detrás
das tentativas de saque e de destruição.
Um
componente central do processo de recolonização são as
mudanças estruturais no terreno militar. Na última década, os exércitos
latino-americanos foram modificando sua estrutura, obedecendo aos critérios
gerais do imperialismo em matéria militar. Os exércitos nacionais vêm sendo
reduzidos, transformados em forças de
intervenção rápida, com maior profissionalização da tropa e
postos sob o comando direto dos generais norte-americanos.
O
Plano Colômbia é hoje a expressão mais avançada dessa nova realidade das
FFAA dos países latino-americanos e sua ligação com o alto comando
norte-americano.
Em
resumo, o imperialismo consegue dominar a coluna vertebral dos Estados: nos
terrenos político-militar e econômico, engorda o negócio das indústrias
armamentistas, já que as mudanças concentram mais o gasto militar no
armamento.
Nas palavras dos setores
militares nacionalistas (mais reacionários), O Plano de desmantelar as FFAA é questão de importância não só
para os militares; o que se joga nesta briga é nem mais nem menos que a existência
mesma do Estado Nacional.
O Plano Colômbia mostra, por
sua vez, o papel submisso e entreguista das burguesias latino-americanas. Nunca
uma agressão militar imperialista na América Latina contou com tanta submissão
e adulação dos Governos. O Plano Colômbia mostra com toda a sua crueldade o
caráter subserviente destes Governos.
Deve-se estudar o significado
do alerta de vários setores da esquerda equatoriana e colombiana sobre a pretensão
norte-americana de se apropriar de uma parte da Amazônia e formar um novo
Estado. A recente proposta de Bush de trocar dívida externa dos países pela
posse norte-americana, em regime de arrendamento, de uma parte da Amazônia; ou
as campanhas sobre o caráter internacional das terras florestais daquela região,
por ser o pulmão do mundo, são elementos que dão força a essa hipótese.
A espoliação que acompanha o processo de
recolonização descarrega sobre os trabalhadores, como sempre, o fardo da
crise. O grau de superexploração impôs um retrocesso de décadas nas condições
de vida dos trabalhadores e dos setores populares. Se quisermos sintetizar numa
frase o que sucedeu no subcontinente, entre os anos 80 e 90 em relação às
condições de vida das massas populares, podemos dizer: nunca as massas
perderam tanto em tão pouco tempo.
A miséria se generaliza a
ponto de os países mais industriais se equipararem, em seus índices de miséria,
aos mais atrasados. No México, alguns dados falam de 70 milhões de pobres. Na
Argentina, apenas em Buenos Aires, são 3,47 milhões (29,7% da população) os
que vivem abaixo da denominada linha de pobreza. Na América Latina, 40 milhões
de crianças vivem nas ruas.
O desemprego oscila entre 15%
e 20% no Brasil, Colômbia, Venezuela e Argentina, dos quais a taxa maior é na
juventude (chegando a 23% na Argentina, 17% no Brasil e Chile, 25% no Uruguai e
43,4% no Peru).
A desregulamentação do
emprego, a flexibilização das leis trabalhistas está transformando as
características da estrutura trabalhista do subcontinente. Verifica-se a presença
cada vez maior de uma classe trabalhadora, não só terceirizada, de caráter
temporário, etc., mas privada diretamente de qualquer direito. Assim, no
Brasil, em torno de 55% da população trabalhadora não tem carteira
assinada (são ilegais, sem direitos); no Peru, o contingente de
subempregados passou de 37% da força de trabalho, em 1988, para 73,5%, em 1998,
e continua crescendo. No México, de uma população trabalhadora de 38 milhões
de pessoas, apenas 15 milhões têm registro legal. O trabalho infantil e o
trabalho informal são fatos disseminados por toda a região.
Por outro lado, a imposição
de novas formas de organização do trabalho dentro das empresas, ao mesmo tempo
em que expulsa de seu emprego milhares de trabalhadores, impõe ritmos frenéticos
para aumentar a produtividade. Assim, o aumento da superexploração caminha
junto com o aumento da miséria.
No ABC paulista, por exemplo,
de 240 mil operários empregados restam pouco mais de 100 mil, tendendo a cair.
A Volkswagen, que tinha 46 mil em 1986, tem hoje menos de 18 mil, entretanto
produz muito mais. Enquanto a produtividade cresce, os salários vêm perdendo
valor. O valor do salário mínimo do Brasil hoje corresponde a menos de 26% do
valor que tinha no momento de sua criação, em 1940. Segundo o próprio Banco
Mundial, o equivalente argentino caiu 50%, entre 1984 e 1992, e o mexicano,
baixou 57%.
A gigantesca extração de
mais-valia serviu para acentuar a concentração do capital e da renda. A
concentração da renda deu um salto nessa década: os 20% mais ricos têm uma
porção da renda total sem paralelo em todo o mundo (52,94%) contra os 20% mais
pobres, que dispõem apenas de 4,52% da renda total.
A
ofensiva recolonizadora do imperialismo e a miséria crescente que a acompanha
estão sendo enfrentadas por um importante ascenso
do movimento de massas. Como em toda realidade, com
desigualdades, as lutas populares percorrem o subcontinente: México, Peru,
Venezuela, Equador, Argentina, Bolívia, Costa Rica, Honduras, Guatemala. Este
ascenso teve seu ponto mais alto no levante equatoriano de 21 de janeiro de
2000, onde uma insurreição popular apoiada em organismos alternativos de poder
o Parlamento dos Povos e a CONAIE e, com o movimento indígena à cabeça,
tomou o poder durante oito horas.
A
radicalização dos métodos de luta
é uma característica central das lutas. Os bloqueios de estradas e os
enfrentamentos com a polícia e com o exército são partes substanciais de
muitas das mobilizações desenvolvidas neste último período.
Expressão avançada e qualitativa dessa radicalização são os levantes
insurrecionais que se repetiram nas lutas dos camponeses e cocaleros
na Bolívia (Cochabamba e Chapare) ou os desempregados nas províncias da
Argentina (recentemente em Salta) e no Brasil o MST através de ocupações de
grandes latifúndios improdutivos. Em Seatlle, em novembro de 1999,
manifestantes do mundo inteiro promoveram a primeira mobilização internacional
de massas contra a OMC, o que representou um marco na luta dos trabalhadores
contra a exclusão e a pobreza. No Fórum Social Mundial de Porto Alegre
desencadeou-se uma forte resistência ao neoliberalismo, pela construção de um
outro mundo.
Costurou-se entre diversas
lutas à afirmação conjunta de princípios contra a hegemonia do capital, a
destruição de nossas culturas, a monopolização do conhecimento e dos meios
de comunicação de massas, a degradação da natureza e a deteriorização da
qualidade de vida. A experiência da democracia participativa, como em Porto
Alegre, mostra que alternativas concretas são possíveis. Foi um importante
momento de reafirmação da supremacia dos direitos humanos, ecológicos e
sociais sobre as exigências dos capitais e dos investidores.
O ascenso do movimento de
massas tem essencialmente as características de um movimento
popular. Isso é assim porque a vanguarda do processo são os movimentos indígenas,
os camponeses e os estudantes. A classe operária faz parte do processo, mas
como parte da mobilização popular, dissolvida na mesma.
O
fato de que se tenham desenvolvido lutas muito importantes de setores de
trabalhadores como os professores (Equador, Bolívia, México, Brasil,
Argentina), empregados públicos (México, Brasil) ou desempregados (Argentina)
ou as recentes greves metalúrgicas no Brasil, apontam para a possível e necessária
volta da classe trabalhadora para o centro das mobilizações. Para que isso
ocorra dependerá de uma série de fatores, entre os quais está o papel das
direções, que precisam atuar com tudo procurando dar uma perspectiva de classe
ao processo de reação à superexploração capitalista, derrotando os governos
subservientes ao FMI e ao grande capital em nossos países.
Falar
de direitos dos "cidadãos, de acabar com a exclusão social enquanto se
paga religiosamente a dívida externa e a interna, enquanto se tolera ou apóia
as privatizações e o saque das indústrias e recursos energéticos do
subcontinente soa como uma demagogia. Não há forma sequer de dar resposta aos
mais elementares direitos democráticos sem se livrar da opressão imperialista.
Desde a luta pelo salário em uma montadora até a defesa do emprego em um
banco, passando pela exigência de reforma agrária, os direitos nacionais indígenas,
ou a defesa da universidade pública, tudo isso é impossível sem acabar
batendo de frente com o FMI e o capital monopolista nacional e internacional.
Frente ao determinismo
conservador que pretende justificar o entreguismo pela impossibilidade
material de que a Argentina; o Brasil; o Paraguai; etc. possam sair por si só
da miséria e do atraso neste mundo globalizado, não há forma de escapar
da miséria sem enfrentar o imperialismo, seus governos dependentes e o FMI. Não
há forma de escapar sem opor a seus planos recolonizadores e a seus
tratados a unidade dos povos
latino-americanos. E essa segunda independência que deve ser o caminho para
a construção de uma América Latina socialista.
Da
burguesia latino-americana, inclusive a que às vezes aparece como mais
radical, não se pode esperar mais que entrega e submissão. A
luta pela independência e emancipação da América Latina só pode vir pelas mãos
da classe trabalhadora organizada.
Nesta
época de domínio imperialista mundial, e em meio ao atual processo de
recolonização, as tarefas de liberação nacional são indissociáveis das tarefas de
liberação social. Não há
plena soberania, reforma agrária, direitos nacionais indígenas, trabalho,
educação, saúde, moradia sem expropriar
o imperialismo e seus agentes nacionais, sem recuperar as fontes energéticas,
os meios de produção e troca e colocá-los a serviço dos oprimidos.
Precisamos
levantar a bandeira do classismo, lutamos para que seja a classe
trabalhadora latino-americana que, encabeçando os oprimidos,
nos permita liquidar com a dominação do capital externo; a exploração do
capital nacional; defender os
recursos econômicos latino-americanos fazendo frente às privatizações;
passar o monopólio do comércio exterior para mãos estatais; expropriar os
bancos e o sistema financeiro; defender a moeda; renacionalizar todos os
recursos energéticos e não pagar um
único dólar da dívida externa.
Situação do Brasil
A crise econômica brasileira
vem se avolumando desde 1997, com um pico em 1999 na forma de um ataque
especulativo, problemas no câmbio, uma enorme fuga de capitais e incapacidade
do país pagar suas contas com o exterior. A âncora cambial que para
manter o valor artificial do real precisava ter um lastro nas reservas em dólares,
já que a produtividade da economia não sustentava aquele valor artificial,
dependia de forte ingresso de capitais externos. A crise da Ásia afetou o fluxo
de capitais para o país, que por sua vez chegou a oferecer juros de 51% para
mantê-los no Brasil, até que o modelo não se sustentava. O governo perde o
controle econômico e com ele ameaça-se perder o controle político. Em relação
à dívida interna é exercida também uma verdadeira rapinagem. O capital
especulativo internacional age no mercado interno com a compra de títulos da dívida
pública brasileira tornando o Estado mais refém ainda dos controladores da
economia internacional, os países desenvolvidos.
O imperialismo entrou pesado no socorro à crise, com seu pacote de US$ 42 bi. O
país recorre ao FMI e firma uma carta de intenções draconiana. O Le Monde
Diplomatique, em artigo assinado por Michel Chossudovsky em março de 1999, se
refere a essa carta nos seguintes termos: Programa de recolonização do
Brasil No correr da crise, a pilhagem. De fato, se é a partir de 1995
que passa a crescer a entrada de Investimento Externo Direto (IED) no Brasil, é
em 1999 e 2000 que ele explode. O Brasil passa a ser o 5º país em IED. Entre
os países semicoloniais, o 2º, só perdendo para a China. Em 1999 entraram US$
30 bilhões em investimentos diretos. A desvalorização do real tornou muito
barata toda estrutura produtiva nacional: baratearam não só as estatais, como
todas empresas. A desvalorização do real barateou em dólar também as
mercadorias aqui produzidas. Daí que a burguesia sonhou com um boom
exportador a lá anos 70 e previu que o país exportaria US$ 10 bilhões,
aliviando suas contas externas. Isso não ocorreu, o Brasil embora tenha
aumentado as exportações , importou ainda mais. Mas o empréstimo do FMI e
a entrada de dólares em troca de propriedade e patrimônio evitaram a moratória
técnica e financiaram nestes dois anos o rombo das contas externas brasileiras,
propiciando um crescimento de 4,2% no ano 2000 retomando os níveis de produção
de 1994 na indústria, depois da estagnação de 1999.
O FMI colocou um novo homem de
confiança no BC e conseguiu tudo o que queria no Congresso, diante de uma
burguesia perplexa, dividida e em disputa pelo espólio da rapina, mas também
insegura e mais temerosa da possível quebradeira e também do movimento de
massas.
Mas se as empresas e
mercadorias aqui produzidas ficaram baratas em dólar, a vida ficou muito mais
cara em reais e a inflação só não disparou, porque o salário real dos
trabalhadores teve um verdadeiro confisco, uma desvalorização de mais de 16%
nos últimos dois anos.
O Brasil teve um infarto em
99, mas a burguesia conseguiu estancá-lo. Colocaram umas pontes de safena no
doente e ele não morreu afastou-se a catástrofe imediata mas desde então
ele é um cardíaco que enfartou. E a receita do médico FMI que vem sendo
aplicada, prepara novos colapsos, ainda que por vezes o doente aparente boa saúde.
Não é um sujeito normal e saudável, é um sujeito cardíaco, em crise.
A vulnerabilidade externa é
enorme. O Brasil vem fechando suas contas externas com venda de patrimônio em
larga escala e também com empréstimos externos. De modo que, na situação
atual o país não tem como crescer de forma sustentada, menos ainda pode
atingir patamares de crescimento nos níveis dos anos 70. Qualquer diminuição
de entrada de capitais aqui coloca em xeque as contas externas, e o país à
beira de uma nova crise cambial e força o governo a estancar o crescimento econômico
ou entrar num processo inflacionário. Chama a atenção a dificuldade crescente
do governo em conseguir superávit nas contas externas, que integram o balanço
de pagamentos, com claro sinal de continuar assim no decorrer do ano.
A crise americana e a
proximidade da ALCA tornam mais vulnerável ainda o país. A ALCA será um novo
choque de desregulamentação comercial, financeira e produtiva e significará
um patamar de superexploração e miséria muito superior. A recessão
americana, por sua vez, inevitavelmente diminui o total de investimentos
externos, bem como as exportações. O Brasil implora para que os países
desenvolvidos abram um pouquinho os seus mercados para suas commodities: suco de laranja e aço, e oferece subsídios de todo
tipo para que algumas fábricas de componentes se instalem aqui, supram o
mercado brasileiro e exportem, pois o governo sabe que só o mercado brasileiro
não basta à escala de produção destas empresas. Essa é uma diferença hoje
com os anos 30, a produção é mundializada.
É porque o crescimento atual
é inconsistente e a vulnerabilidade externa é enorme que qualquer resultado
econômico desfavorável, qualquer crise política, ou qualquer declaração
infeliz de um Inocêncio de Oliveira derruba a bolsa, pressiona o dólar,
gera nervosismo.
Aqui existirá mais concentração
de capital, mais desnacionalização. E o capital exigirá mais ajuste fiscal
para manter em dia o pagamento das dívidas, como mais desregulamentação
trabalhista, mais exploração e mais reformas estruturais. O país está
sendo recolonizado e com a ALCA no terreno econômico pode ir à
dolarização. Esse caminho, no entanto, não se trilha sem crise econômica,
política e social.
O processo de recolonização
no terreno econômico exigiu e segue exigindo também um operativo político e
institucional. Vivemos um regime que, sob forma democrática burguesa, se ordena
a partir do imperialismo. Tais regimes estão entrando em crise na América
Latina em maior ou menor grau e com distintas formas.
No Brasil, seguiu-se em grande
medida o mesmo modelo implantado em vários países do continente, ajustado às
especificidades brasileiras. A primeira medida foi colocar tecnocratas pró-EUA
nos postos chaves do executivo, particularmente na área econômica (Ministério
da Fazenda, Banco Central, BNDES) e em todos os órgãos chaves que operassem ou
tivessem envolvimento com as privatizações e o sistema financeiro. Todos esses
postos incluindo as agências Nacionais de Petróleo e Telecomunicações
têm à sua frente pessoas que trabalharam no sistema financeiro americano,
estudaram e moraram nos EUA. Em segundo lugar, o Executivo ganhou um poder
extraordinário com a utilização indiscriminada das Medidas Provisórias, que
têm força de lei: medidas decisivas são operadas via MP. FHC já decretou
quase 6 mil MPs. Instituiu a emenda da reeleição. O FMI deixou de apenas
orientar a macro-economia, para monitorar cotidianamente as contas do Estado. O
Congresso subserviente e corrupto perdeu parcelas de poder. O Judiciário
está sendo reformado, deu-se poder extraordinário para o presidente do STF
cassar liminares, em nome da ordem e segurança pública (conforme resolução
sobre a Reforma do Judiciário).
O governo criou a Abin,
ressuscitando muitas funções do antigo SNI da ditadura. E segue operando mudanças
institucionais que garantam a manutenção do controle do capital monopolista
nacional e internacional sobre o país e o resguarde de eventuais mudanças políticas:
por isso a insistência em dar maior poder ou mesmo independência ao Banco
Central e, por conseguinte, à toda área econômica. A Lei de Responsabilidade
Fiscal é a outra cara disso. Ou seja, pode-se mudar os governantes, mas eles
estão e estarão amarrados - sem autonomia em relação à condução do
projeto capitalista.
Essas mudanças todas
significaram também uma maior centralização de poder econômico e político
na União em detrimento de estados e municípios, que tinham ganhado em
descentralização na Constituinte de 88. O pacto Federativo vive uma crise, que
a Lei de Responsabilidade Fiscal só aprofunda. A guerra fiscal entre os estados
e os ataques aos mecanismos de compensação das desigualdades regionais não são
um processo menor. A aliança governista especialmente PSDB/PMDB/PFL
expressa ao seu modo ainda que muito distorcidamente, porque os partidos no
Brasil muitas vezes são mais um ajuntamento de distintos setores do que
representantes de um setor puro da burguesia, a aliança necessária entre as
distintas frações burguesas e também oligarquias regionais.
A burguesia monopolista
brasileira, que sempre foi entreguista e dependente em relação ao
imperialismo, se aliou ao processo de internacionalização da economia, ainda
que no papel de subalterna. Durante esses anos emergiu um setor financeiro
ligado a bancos de investimentos e aos negócios das privatizações, que de
fato é quem ficou no controle da área econômica do governo.
Uma parcela expressiva da
burguesia industrial, dona de empresas complementares às multis e outras foi
para o espaço, perdeu o controle acionário das suas empresas e tornou-se sócia
minoritária, ou diretamente virou rentista. Isso aconteceu nas autopeças, na
indústria eletroeletrônica, no setor de bens de capital e em muitos outros,
como alimentos, supermercados, bancos. Indústrias nacionais importantes como
Brastemp, Consul, Gradiente, Aços Vilares, Metal Leve foram engolidas pelas
multis e algumas, fechadas. É o caso da Brastemp, atual Multibrás, engolida
pelo mesmo grupo que comprou a Consul. O grupo manteve a Consul e fechou a
Brastemp, embora provavelmente vá manter as duas marcas.
Da burguesia mais tradicional sobraram os setores ligados a cimento,
papel e celulose, parte do setor financeiro nacional e parte do comércio, além
de setores agro-industriais.
Se com a eleição de FHC, a
burguesia monopolista brasileira uniu-se - num papel de coadjuvante - com o
capital monopolista internacional em torno do projeto imperialista sonhando com
alguma localização que beneficiasse todos, a partir de um novo boom,
o fato é que a crise do modelo vem acirrar as disputas interburguesas. As
contradições entre as burguesias monopolista e não monopolista nacional se
acirraram. Não há de parte de nenhum setor um projeto alternativo ao modelo do
FMI, mas há uma briga em outro nível pela divisão do bolo e rapina do Estado
- que ficou menor com a advento das privatizações.
Por isso, pelo menos desde
1997 há elementos crescentes de crise no regime democrático burguês
brasileiro. Embora ainda não esteja em colapso. É por isso que temos
sucessivas crises políticas; enfrentamento entre poderes; aparição de
seguidos escândalos de corrupção; guerra fiscal. Não é normal numa
democracia burguesa sólida ou estável, que apareça um escândalo de corrupção
por mês ora atingindo o Executivo, ora o Judiciário, ora o Legislativo. Não
é normal ser eleito um Presidente para o Senado, que parte expressiva da mídia,
refletindo outro pilar de sustentação do governo, prove e comprove que é um
corrupto, um ladrão. Não é normal que em pelo menos três estados existam
governadores ameaçados de impeachment
(Amapá, Alagoas) ou de morte (Acre). Também não é normal o Congresso
desautorizar o Judiciário ou vice-versa. E menos ainda é normal o desgaste que
vêm adquirindo todas as instituições aos olhos das massas.
Os interesses do grande
capital nacional e do FMI esquartejaram a Constituição de 1988 e transformaram
a superestrutura jurídica do país. Essas mudanças têm a ver com a
necessidade de elevar a exploração dos trabalhadores. A burguesia foi ser sócia
do imperialismo na rapina. Enquanto estava tendo fatias do bolo para todo o
mundo e havia uma maioria das massas apoiando o plano, as coisas foram avançando
sem muitos traumas. Quando a disputa pelo espólio foi ficando mais feroz, começaram
a aparecer crises de todo os tipos.
As denúncias de corrupção só
aparecem, na profusão que têm aparecido, porque setores preteridos ou
descontentes ou em disputa por nacos de poder as revelam. Estas denúncias,
associadas aos ataques constantes ao movimento de massas vêm construindo um
desgaste grande da democracia burguesa. Isso não significa que as massas não vão
mais votar, ou que não nutrirão nenhuma expectativa em processos eleitorais.
Mas significa que não há o encanto de antes, que há desgaste.
Evidentemente, enquanto as
massas não tenham seus organismos e sua direção majoritária possa ganhar
eleições, as esperanças se renovam, mas sob a base de um grau importante de
experiência e de um desgaste estrutural. Daí o apelo que tem o MST em setores
expressivos por seu perfil anti-regime. A fúria do governo e da burguesia
contra os mesmos, buscando ganhar a classe média contra suas ações demonstra
que o espaço anti-regime cresce.
É óbvio que a burguesia
ainda tem recursos autoritários ou não dentro da democracia burguesa
para exercer sua dominação: parlamentarismo; Banco Central Independente (se
bem que todas essas são golpistas, autoritárias); compra de deputados; pode
nas eleições tirar da cartola algum salvador da pátria sob seu controle (vide
Fox, no México e Toledo, no Peru); pode buscar cooptar em grande estilo
tentativas de dissidência do modelo imperialista (vide Chávez), pode uma
enormidade de coisas. Mas todas essas coisas são em resposta a uma crise e
instabilidade crescentes.
O
ano começou com uma conjuntura de crescimento econômico e uma grande campanha
otimista da burguesia, com reflexos inclusive na popularidade de FHC, que subiu.
No entanto, o Brasil segue metido na crise estrutural de que falamos acima, o
que dificilmente fará deste um ano morno e de céu de brigadeiro para a
burguesia e o governo, mesmo que eles consigam manter os 4% de crescimento ao
ano, o que não está garantido. No entanto, podem ocorrer diferentes cenários,
porque há uma tremenda incógnita pairando sobre o mundo: a dimensão e duração
da crise da maior economia do mundo e também a evolução do quadro político
argentino. Portanto, o mais correto é nos prepararmos para diferentes cenários.
O
que é certo é que mesmo que a recessão americana não se transforme num período
de estagnação como o do Japão ou ainda mais grave: numa depressão, haverá
desdobramentos aqui dentro (diminuição de exportações e da entrada de
capitais; pressão seguida e acelerada pela Alca que exige mais superexploração,
reforma trabalhista, etc.).
Não
é descartado que o Brasil mantenha no caso de uma recessão americana, que
seja revertida no segundo semestre e que os EUA volte a taxas de crescimento de
2,5 ou 3% um crescimento de 4% este ano. A diminuição do desemprego, no
entanto, será irrisória e o governo e a burguesia vão precisar manter um
forte arrocho salarial, endividar mais o país e rezar para que o capital
estrangeiro continue comprando empresas aqui. Ainda assim, nesse cenário mais
otimista para a burguesia, oscilarão conjunturas de otimismo e forte
propaganda governamental de que agora vamos para o milagre, com momentos de
instabilidade, desconfiança, pessimismo.
As
crises interburguesas vão seguir e podem até se radicalizar, tanto em
função das disputas econômicas, como em função da disputa por 2002. A crise
na aliança governista é grande (como estamos vendo na disputa do Senado) e
muita água vai rolar até lá.
Em função da vulnerabilidade
e fragilidade da nossa economia, associadas à diretriz entreguista em
continuidade, a tendência é de um longo período de lutas e da retomada do
ascenso dos movimentos de massas, passando pela internacionalização dos
movimentos populares contra o Neoliberalismo.
Junto com isso tudo a disputa
de 2002 já estará atravessando o ano e uma possível candidatura de esquerda
com conteúdo anticapitalista tende a gerar enormes expectativas, mais do que
1994 e 1998 em função da possibilidade de aglutinar os trabalhadores numa
frente classista. A resposta mais consciente diante desta realidade é a defesa
de uma plataforma de combate sem tréguas ao neoliberalismo e à corrupção a
ele atrelada. Isso significa dar conseqüência à mobilização da massa
trabalhadora para barrar privatizações do que resta de setores estratégicos,
como o Elétrico, o Sistema Financeiro - Bancos Oficiais -. O debate antecipado
sobre as eleições 2002 deve girar em torno de programa de governo, não de
nomes, para não quebrar a unidade da luta contra o grande inimigo Imperialista
e Neoliberal.
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