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Pesquisadores avaliam conjuntura e formas de enfrentamento dos ataques aos trabalhadores

10º Congrejufe Acessos: 1832

O economista e pesquisador da Unicamp Márcio Pochmann palestrou, neste sábado (27), no 10º Congrejufe. Ele começou sua intervenção a partir da crítica à ideia, segundo ele, generalizada de que estamos vivendo um período permeado de mudanças. “Na realidade, estamos vivendo uma mudança de período histórico. E as lentes que estamos usando para analisar esse período são as lentes do passado que nos dificultam entender e interpretar o que está acontecendo o que faz que utilizemos as mesmas formas de luta do passado, que foram exitosas, mas hoje são cada vez mais inadequadas”.

Na sua avaliação, o discurso de que a conjuntura está muito ruim e que vai piorar não agrega os trabalhadores na perspectiva da construção de um novo projeto político para o país. Para o professor, estamos em um momento de ruptura de modelo social, como na virada dos anos 1920-1930, quando o país deixou de ter uma economia apenas agrária para uma economia de base industrial, “o que permitiu construirmos o sistema de relações de trabalho que temos até hoje, um sistema coorporativo, com a criação das leis trabalhistas, da CLT, ainda que com avanços e retrocessos”.

Segundo o economista, o Brasil passa por uma desindustrialização precoce, sem ter incorporado o conjunto da população ao consumo de bens industriais. “Avançamos para uma  sociedade de serviços, cuja base econômica é cada vez menos materializada e mais imaterial. Praticamente quatro quintos dos ocupados são do setor terciário”.

Segundo Pochamman, foi a economia material do século XX com a existência física dos locais de trabalho que possibilitou aos trabalhadores como categoria e se organizarem em entidades como os sindicatos.  Hoje como  desaparecimento do local de trabalho na economia imaterial faz como se quebre a ideia de identidade do conjunto da classe. “O trabalhador desempregado já não tem mais o sindicato como sua representação”.

Para o professor, os trabalhadores precisam pensar em que tipo de projeto de sociedade está sendo construído com enorme potencial de organização da classe trabalhadora, mas em bases muito diferentes das vivenciadas na últimas décadas. Segundo ele, o fenômeno da pejotização do trabalho e da hegemonia do setor terciário como grande empregador faz com que o trabalhador perca sua identidade de classe o que dificulta as instituições tradicionais como os sindicatos de manterem a unidade na representação das categorias.

O palestrante alertou que na atual conjuntura são as igrejas, milícias e o crime organizado que conseguem chegar à população e promover algum diálogo. “Essas instituições têm um modus operandi completamente diferente e não atuam só de forma institucional. Olham os indivíduos em sua integralidade. Na igreja há a ideia de unidade, espaço de fraternidade, solidariedade. Têm serviços, sociabilidade, são espaços de identidade, lutam na totalidade”

O pesquisador também citou o fim da parcialização do tempo como um das questões a serem tratadas pelas organizações dos trabalhadores. “Com as novas tecnologias, estamos trabalhando 24h por dia, vivendo e dormindo no trabalho, vivemos em tensão em torno do trabalho, com a intensificação, prolongamento e trabalho remoto. São questões desafiador que precisamos enfrentar”

Assim como Pochmann, Plínio Arruda Sampaio Filho  também avalia que crise está destruindo a indústria brasileira.  Para ele, esse é um processo que já vem desde a década de 1980, “mas que se aprofunda e acelera agora após 2018. Na política estamos assistindo a crise terminal da Nova República”.

Plínio entende ainda que o projeto da burguesia no Brasil para resolver a crise econômica é aplicar a política de ajuste fiscal, elegendo trabalhadores, os serviços públicos e o meio ambiente como pautas prioritárias de expropiação.

O professor discorda de Pochmann sobre os desdobramentos da crise. “Se o projeto Guedes der certo, o que temos pela frente no Brasil é nos transformarmos numa mega feitoria moderna, uma economia extrativista exportadora, numa frente de expansão que o capitalismo novo reserva para a periferia Latino Americana. E nessa divisão internacional do trabalho não há espaço para industrialização”. E para posicionar o Brasil nesse cenário de crise do capitalismo mundial, seria preciso os ajustes que estão sendo feitos: privatizações, reforma da previdência, dívida pública.

Plínio avaliou que a vitória do Bolsonaro significa a falência definitiva da Nova República e que a esquerda não teria disputado  “o novo”, porque estaria presa ao movimento  “Lula Livre”. Essa posição teria dado espaço para a instalação de um governo que transformou a violência em um projeto político.

Para o professor, a unidade dos trabalhadores contra as reformas conservadoras tem que ser construída a partir da base. Plínio avalia que a conjuntura demanda que os trabalhadores voltem às ruas, como aconteceu em 2013, na greve contra a reforma da previdência, na primavera das mulheres e no movimento dos caminhoneiros, em 2018. “Não precisamos de força no parlamento, precisamos de força nas ruas”.

Plinio propôs que a esquerda retome a defesa da construção de uma sociedade socialista no Brasil e que a esquerda tem que apresentar projetos e pautas concretas e a construção da greve geral como forma de barrar as reformas em curso . “Queremos direitos Já! Intervenção popular ao invés de militar. Queremos o fim da corrupção, mas com a expropriação das empresas corruptas”.

Da redação do 10º Congrejufe, Manuella Soares
Foto: Joana D'Arc Melo