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Fazer greve é preciso

Por Deodoro Silva de Araújo, servidor do TRT - RN

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

"Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito." (William Shakespeare)

“Eu tenho um sonho de que um dia sobre as montanhas vermelhas da Geórgia os filhos dos ex-escravos e os filhos dos ex-donos de escravos possam sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho de que um dia mesmo o estado do Mississipi, um estado sufocante com o calor da injustiça e opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que os meus quatro filhos haverão um dia de viver numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele mas pelo conteúdo do seu caráter.

Eu tenho um sonho de que um dia em Alabama, com os seus racistas violentos... os meninos negros e as meninas negras poderão dar as mãos aos meninos  brancos e às meninas brancas como irmãs e irmãos...

Com esta fé nós poderemos transformar as estridentes discórdias da nossa nação numa sinfonia de fraternidade.

Com esta fé poderemos trabalhar juntos, orar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, levantarmo-nos juntos pela liberdade, sabendo que um dia haveremos de ser livres. ...

Que a liberdade se ouça. E quando isso acontecer, e quando deixarmos que se ouça a liberdade – quando deixarmos que ela soe em cada aldeia e em cada lugar, de cada estado e de cada cidade, poderemos antecipar aquele dia em que todos os filhos de Deus – negros e brancos, Judeus e Gentios, Protestantes e Católicos – poderão juntar as mãos e cantar as palavras do velho Espiritual Negro:  “Finalmente livres!  Finalmente livres!

Martin Luther King, na Década de 60 liderou diversas marchas de protesto e manifestações pacíficas em defesa dos direitos iguais entre brancos e negros e o fim do preconceito e da discriminação racial, entre as quais destaco a MARCHA SOBRE WASHINGTON, com cerca de 250.000 participantes, dentre os quais 50.000 brancos, pressionando o congresso e o presidente americanos à publicação de legislação sobre o direito de voto, fim da segregação nos edifícios públicos, no Governo, no emprego e em outras matérias de direitos civis, CULMINANDO COM A ASSINATURA, EM 02 DE JULHO DE 1964, DO ATO DOS DIREITOS CIVIS.

Sua atuação política e social foi fundamental nas mudanças que ocorreram nas leis dos EUA nas décadas de 50 e 60, promovendo a criação de uma legislação mais justa e igualitária, LEIS QUE INFLUENCIARAM NÃO SÓ OS EUA, MAS O MUNDO.

MARTIN LUTHER KING FOI ASSASSINADO EM 4 DE ABRIL DE 1968 NA CIDADE DE MEMPHIS.

A VIDA FOI O PREÇO PAGO PELA LUTA EM BUSCA DE UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E IGUALITÁRIA.

Enquanto isso, nós estamos aqui preocupados em não perder nossas funções ou em termos nosso ponto cortado ou termos que fazer hora extra para compensar os dias parados.

8 DE MARÇO DE 1857: cerca de 130 mulheres tecelãs, em greve por melhores condições de trabalho, são trancadas em um galpão de uma fábrica em Nova Iorque e queimadas vivas.

Talvez, ao comemoramos o DIA INTERNACIONAL DA MULHER, ao distribuirmos rosas e outros mimos às mulheres, poucos se lembrem deste episódio tão triste.

MAIS UMA VEZ, A VIDA FOI O PREÇO PAGO PELA LUTA EM BUSCA DE UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E IGUALITÁRIA.

Enquanto isso, nós continuamos aqui preocupados em não perder nossas funções ou em termos nosso ponto cortado ou termos que fazer hora extra para compensar os dias parados.

Relembrando e plagiando uma música de Zé Geraldo, TUDO ISSO ACONTECEU E MUITOS ALI NA PRAÇA DANDO MILHO AOS POMBOS.

Talvez a minha fala de hoje possa parecer áspera, porém faço estas citações, e poderia fazer outras, não para criticar os colegas que não se engajam de forma mais contundente neste movimento grevista, ou que o acham desnecessário, ou que ele não leva a nada, nem tampouco para julgá-los, pois se fosse fazê-lo, teria que criticar e julgar a mim mesmo, que, até tempos recentes, tinha minhas reticências acerca de participar deste tipo de evento, mas o intuito é dotá-los de outros argumentos que lhe permitam melhor avaliar suas posições, não de convencê-los, mas, simplesmente, de fazê-los pensar.

Muito falou-se estes dias, acerca das diversas razões para que alguns de nós não somassem suas forças a esta greve: MEDO, VERGONHA, COMODISMO, SENTIMENTO DE ESTAR FAZENDO ALGO ERRADO, SENTIMENTO DE QUE SUA PRESENÇA É DESNECESSÁRIA OU QUE ESTE TIPO DE MOVIMENTO NÃO VAI DAR EM NADA.

Acerca do medo já conversamos bastante, vamos então falar das outras razões.

VERGONHA: Por que sentir vergonha de pleitear algo que lhe é legítimo? Quem deveria sentir vergonha são os gestores e políticos deste país, que mentem descaradamente para a população, legislam em causa própria, produzem obras superfaturadas, se apoderam de verbas públicas, entre tantas outras mazelas que nós já conhecemos. Esta greve foi deflagrada em face da opressão exercida pelo governo federal contra a classe do judiciário, notadamente contra os servidores propriamente ditos.

SENTIMENTO DE ESTAR FAZENDO ALGO ERRADO: Alguns se sentem incomodados por acharem que a greve está causando transtorno à população, à ordem pública. Colega, se o seu argumento é este, mude o seu entendimento. Ensinaram a você pela cartilha errada. Este foi o sentimento herdado do REGIME MILITAR, durante o qual fomos doutrinados, ou melhor dizendo, fomos forçados a pensar que toda e qualquer reivindicação promovida contra o poder posto, era contrário à lei.

Mas, o que dizer daqueles que ACHAM QUE SUA PRESENÇA É DESNECESSÁRIA OU QUE ESTE TIPO DE MOVIMENTO NÃO VAI DAR EM NADA? Como é que alguém pode achar isso de si mesmo?. Valorize o que você tem, o que você é. Até prova em contrário nós somos os únicos seres pensantes do universo, os únicos com capacidade de criação e transformação. Você é importantíssimo para este movimento, para todos nós, para a instituição na qual você trabalha. Sem o seu trabalho, somado ao dos seus colegas, não se pode distribuir justiça em quaisquer dos órgãos do poder judiciário. Se, porém, você pode dispor de apenas um pouco do seu tempo para comparecer a este movimento, sua presença é muito bem vinda. Talvez não seja suficiente, mas, com certeza, é necessária, contributiva, motivadora, pois esta greve só não vai dar em nada se dele não participarmos, se a ele não nos engajarmos, seja de que forma for.

A coesão em torno de uma greve não é algo que surja da noite para o dia, é fruto de um aprendizado contido dentro do exercício da cidadania. Este aprendizado não é algo fácil, pois implica em algumas renúncias, nem sempre bem suportadas por alguns, gerando um certo desconforto, o que é natural sempre que nos deparamos com situações em que há um antagonismo entre o que queremos, ou o que é mais cômodo para nós, e o que devemos fazer.

Precisamos entender, pelas citações inicialmente feitas, que não existem conquistas sem esforço, sem cansaço, sem sacrifício pessoal, às vezes, precisamos pagar um preço muito alto por nossas conquistas, por defender aquilo em que acreditamos. A história da humanidade está repleta de exemplos, com certeza a vida de cada um aqui presente também.

Para finalizar torno a mencionar as palavras de Martin Luther King, um pequeno trecho de seu pronunciamento feito na noite anterior ao seu assassinato: “Pois bem, não sei o que vai acontecer agora. Temos pela frente dias difíceis. Mas isso para mim já não tem importância, porque já cheguei ao alto da montanha....”

 

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