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Sintrajud-SP: Diretoria repudia ação da PM que levou a 9 mortes em Paraisópolis e convida para ato

Entidade lembra que não é a primeira vez que cidadãos são feridos em operações truculentas das polícias, comuns em áreas periféricas e contra manifestações


A direção do Sintrajud manifesta repúdio à ação truculenta da Polícia Militar que resultou na morte de nove adolescentes e jovens, entre elas um garoto de 14 anos e uma menina, de 18, na favela de Paraisópolis. Localizada no bairro do Morumbi, área nobre da capital paulista, a comunidade abriga hoje cerca de 46 mil habitantes. O baile funk onde ocorreu a tragédia é uma atividade cultural já tradicional no território, que começou a ser ocupado na década de 1950 e é local de moradia de boa parte dos trabalhadores precarizados das grandes empresas e bancos da região da Berrini e funcionários que atuam nos serviços domésticos das mansões do Morumbi.

A fama da festa foi o que atraiu jovens de outras áreas pobres do estado, que em sua maioria também não têm alternativas de lazer a cultura nas localidades onde vivem. Não moravam em Paraisópolis pelo menos sete dos nove meninos mortos, em princípio pisoteados durante os momentos de pânico causado pela chegada da polícia já explodindo bombas de gás lacrimogêneo e atirando balas de borracha.

Os agentes que participaram da operação alegaram que estavam em perseguição a dois homens em uma moto que teriam se infiltrado no baile, mas testemunhas afirmaram às equipes de reportagem que estiveram cobrindo o caso neste domingo que os policiais já entraram na rua estreita onde cerca de cinco mil pessoas participavam de um baile funk atirando.

Nesta quarta-feira (4 de dezembro) organizações de direitos humanos e antirracistas convocam um protesto em frente à Secretaria de Segurança Pública, localizada na Rua Líbero Badaró, 39, Centro velho da capital, às 17 horas. A direção do Sindicato convida a categoria a se manifestar contra a barbárie. A Ouvidoria da Polícia Militar pediu o afastamento dos agentes que participaram da operação.

Confira abaixo o posicionamento da diretoria do Sintrajud

Exigimos apuração e responsabilização pelas mortes em Paraisópolis

Gustavo Cruz Xavier, 14 anos; Denys Henrique Quirino da Silva, 16 anos; Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16 anos; Dennys Guilherme dos Santos Franca, 16 anos; Luara Victoria de Oliveira, 18 anos; Gabriel Rogério de Moraes, 20 anos; Eduardo da Silva, 21 anos; Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos; e Mateus dos Santos Costa, 23 anos. Nove vidas de jovens pobres que só queriam se divertir, num território onde não há quase nenhuma alternativa de lazer e cultura, ceifadas pelo Estado. Nove mães desesperadas. Nove famílias dilaceradas.

A tragédia causada por uma ação policial desastrosa, e que evidencia o preconceito com o qual as populações pobres e periféricas são tratadas, deve ser repudiada por todos. Não há justificativas nem desculpas para que uma suposta perseguição a duas pessoas tenha resultado no assassinato de outras nove, em ferimentos a outros inúmeros cidadãos e na ameaça à vida de cinco mil pessoas. Não há justificativas nem desculpas para que o Estado brasileiro cause a morte de nove cidadãos de forma tão estúpida.

O que aconteceu na comunidade de Paraisópolis, zona Sul da capital paulista, na madrugada deste domingo, é a comprovação do quão racista e elitista é a política de segurança implantada no estado de São Paulo e potencializada na gestão de João Doria.

Seria impensável uma operação de mesmo tipo num dos megaeventos de música com ingressos caríssimos realizados na cidade, onde também ocorrem roubos, furtos e tráfico de drogas – o que a PM declarou combater na operação em Paraisópolis. Mesmo que seja verdadeira a versão policial da “perseguição a criminosos” – o que até agora não se comprovou, e não seria a primeira vez que histórias de “confronto” inventadas por policiais para justificar crimes são desmascaradas ao longo das investigações – não seria motivo para o lançamento de bombas e tiros em meio à multidão.

As mortes desses meninos são resultado da doutrina de segurança que admite que “abordagem nos Jardins tem de ser diferente da periferia”, como declarou em 2017 o comandante da ROTA (as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). O fim das vidas de Gustavo, Denys, Marcos, Dennys, Luara, Gabriel, Eduardo, Bruno e Mateus é produto da orientação do governador João Doria, que agora fala em apuração, de a PM a partir de seu governo ia “atirar para matar”. Os nove jovens foram pisoteados por causa de uma concepção de sociedade com base na qual o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da “Justiça” Sérgio Moro buscam aprovar a excludente de ilicitude para “excessos” cometidos pelas polícias e Forças Armadas na “contenção” a concentrações populares. O porta-voz da PM, em entrevista coletiva ontem, chegou a falar em “uso comedido” das medidas previstas no protocolo, mesmo diante do resultado desastroso.

Tal qual o presidente Michel Temer em 2017, no #OcupaBrasília contra a aprovação da Emenda Constitucional 95, que determinou o uso das Forças Armadas contra servidores públicos e considerou razoável uma ação que feriu dezenas de pessoas. Na ocasião, o “baderneiro” Carlos Geovani Cirilo, de 61 anos, servidor público aposentado que participava de sua primeira manifestação, foi ferido com um tiro no rosto.

Não é a primeira vez que ocorre uma tragédia do gênero em São Paulo. No ano passado, três outros jovens cidadãos paulistas foram mortos numa ação policial para dispersar um baile na cidade de Guarulhos. Em 10 de novembro passado a adolescente Gabriela Talhaferro, de 16 anos, perdeu o olho esquerdo, atingida por um tiro de bala de borracha em outro baile, no distrito de Guaianazes, na zona Leste. Na semana passada, o adolescente Lucas Eduardo Martins dos Santos, de 14 anos, foi encontrado morto, num córrego em Santo André, após uma abordagem policial.

Manifestamos nossa irrestrita solidariedade aos familiares e amigos das vítimas dessa tragédia, e nos somamos aos movimentos sociais e organizações de direitos humanos que cobram efetiva responsabilização de todos os envolvidos. Exigimos a responsabilização também do governador João Doria e do Secretário de Segurança Pública, além dos PMs envolvidos na operação. 

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