Durante a 10ª edição Congrejufe, realizado em Águas de Lindóia (SP), o professor Emílio Peres Facas, da Universidade de Brasília (UnB), apresentou os resultados do relatório final da Pesquisa Nacional de Saúde: “Sofrimento e adoecimento no trabalho do judiciário e MPU”. O estudo, organizado pela Fenajufe e Fenajud, é uma parceria com o Grupo de Estudos e Práticas em Clínicas, Saúde e Trabalho (GEPSAT) e Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho (LPCT) da UnB.
A pesquisa analisou os dados de 1397 trabalhadoras e trabalhadores da Justiça Federal brasileira e retrata a qualidade de saúde – física e psicológica – levando em consideração indicadores como organização do trabalho, modelos de gestão, sofrimento e danos físicos, psicológicos e sociais, que são a causa do adoecimento pelo trabalho. Foi utilizada uma delimitação quantitativa e qualitativa através do Protocolo de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (PROART).
Para o professor, o relatório final e todo o material disponível são instrumentos de luta e de possibilidade de atuação para além dos números. “O momento político que vivemos hoje é bastante complexo, complicado, difícil. Quando a gente fala sobre direito dos trabalhadores, de saúde consequentemente, os desafios são cada dia maiores”, ressalta Facas. “Cabe à mobilização dar vida ao que está no papel”.
Adoecendo por causa do trabalho
O estudo aponta que 66% dos entrevistados relataram problemas de saúde relacionado ao trabalho nos últimos doze meses. E, segundo o professor, o número pode ser ainda maior – uma vez que é difícil para os trabalhadores reconhecerem que algum problema pode estar a associado à função exercida, que estão adoecendo por conta do serviço que fazem. O principal fator diz respeito à sobrecarga de trabalho: número insuficientes de pessoas, prazos irrealistas e metas inatingíveis.
Os números revelam, ainda, que 38% estão insatisfeitos com os processos eletrônicos e 11% trabalham mais de oito horas por dia, sem contar o trabalho remoto pelo WhatsApp após o expediente.
Sofrimento
A avaliação do sofrimento, segundo Facas, passa por três dimensões: esgotamento mental; ausência de reconhecimento no trabalho e falta de sentido na função, ou seja, o quanto seu trabalho é útil para a sociedade. O professor ressalta a importância de identificar o esforço que cada pessoa faz para realizar um bom trabalho, mesmo em condições adversas; e reconhecer uns aos outros como seres humanos e não máquinas.
Assédio moral
Outro ponto que aparece forte na pesquisa são relatos de violência e assédio moral, reflexo de uma estrutura de gestão do trabalho individualizada e verticalizada. No entanto, de acordo com o professor Emílio Facas, as pessoas ainda desconhecem o tema e não têm clareza do que é a violência no espaço de trabalho e passa a se sentir culpada. Facas enfatiza a necessidade de um diálogo constante. “Às vezes o colega do lado pode estar passando pelo mesmo problema e a gente não sabe. Precisamos resgatar essa cooperação, a construção conjunta, as relações humanas. Que passem a se reconhecer como pessoas.”, reitera.
Luta coletiva
No fim da apresentação, o professor destacou que a mudança nas relações de trabalho e valorização da categoria ocorrerão por meio da união e determinação de todos. “A luta tem que ser num plano maior, coletiva. Sindicatos, federações para articular esse tipo de ação”, explica. “Utilizar o resultado da pesquisa como política. O relatório mostra uma realidade bastante complexa.”
Outros dados
– Estilo de Gestão: O estilo individualista apresenta 79% do total de frequência de risco moderada e alta.
– Sofrimento patogênico no Trabalho: 71% da amostra indica riscos moderados a altos de esgotamento mental:
– Danos psicológicos pelo Trabalho: 46% dos (as) pesquisados (as) apresenta riscos médios e altos:
– Danos físicos pelo trabalho: 63% da parcela da categoria entrevistada apresenta riscos médios e altos
O relatório completo pode ser acessado AQUI.
Raphael de Araújo, a serviço da Fenajufe
Fotos: Luciano Henrique de Carvalho