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“A luta contra o racismo cotidiano” foi tema de palestra no Sintrajufe/RS

Por Rosane Vargas, Sintrajufe/RS
 

Na noite dessa quinta-feira, 3, o Sintrajufe/RS promoveu uma palestra com o tema “A luta contra o racismo cotidiano”, com Winnie Bueno, ativista dos movimentos negro e feminista e pós-graduanda em Direito Público. A palestra foi aberta ao público e contou com a presença de colegas, funcionários do sindicato e comunidade.

Na abertura da atividade, o diretor do Sintrajufe/RS Cristiano Moreira, em sua saudação aos presentes, disse que o crescimento da intolerância torna cada vez mais necessária a discussão e o combate aos preconceitos. Ele destacou que, na Pesquisa de Saúde dos Servidores de 2016, apenas 1,3% dos respondentes se autodeclararam negros e em torno de 5%, pardos. Essa pouca representatividade reforça que o sindicato precisa ter a luta antirracista como pauta, concluiu. Também compuseram a mesa as militantes do movimento negro e antirracista Marilise Fróes, assessora de Políticas Sociais do Sintrajufe/RS, e Elaine Lídia Craus, colega da Justiça do Trabalho de Canoas.

Marilise afirmou que o racismo se manifesta no cotidiano de variadas formas, como piadas sobre as cores das roupas e dos cabelos e o usual descrédito quando um negro denuncia que foi vítima de racismo: “os brancos não entendem os relatos, têm uma solidariedade seletiva”, diz ela, a ressaltar que debates como esses são importantes para tirar das sombras “o racismo invisível, mas muito presente”. Elaine falou que a herança escravocrata é muito forte na sociedade brasileira e que esse debate precisa ser cotidiano. A colega destacou que a Justiça do Trabalho atende, em sua maioria, trabalhadores negros, mas em seu quadro há apenas 4% de negros. Para ela, o Estado brasileiro, por sua formação, é “uma máquina de moer gente preta”.

Ao começar sua fala, Winnie Bueno lembrou que no mesmo dia em que se realizava a palestra, 3 de maio, completavam-se 50 dias da execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e que ainda não havia avanços na investigação. Ela alertou que há uma geografia da morte e, nesta, o que tombam são corpos negros.

Racismo institucional e estrutural

A palestrante falou sobre diferenças entre racismo institucional e racismo estrutural. O primeiro se manifesta na maneira como a estrutura racista se articula dentro das instituições. Exemplos são os serviços públicos de saúde, acessados majoritariamente pela população negra, mas cujos rumos e organização são definidos por uma minoria branca. Da mesma forma o Judiciário, cuja seletividade penal não deixa dúvidas a respeito da filtragem racial na aplicação das leis, as quais, novamente, são formuladas sem a participação de negras e negros.

O racismo estrutural está na forma como ele se desenvolve e nas bases em que se estrutura. No Brasil, um dos cernes é o mito da democracia racial, um racismo sem racistas que faz uma blindagem para dificultar até mesmo a discussão sobre o assunto. “Mitos se estabelecem em uma perspectiva acadêmica de forma sutil e eficaz”, explicou Winnie. Um exemplo é que é muito comum as pessoas brancas admitirem que, sim, há racismo no Brasil, mas nenhuma dessas pessoas se identifica como racista: “se não se identifica o racista, não se consegue lutar contra ele”, disse a palestrante.

Representatividade

Winnie destacou que há pouca representatividade de negras e negros em espaços institucionais e outros, mas não somente aí. Há uma ausência, na história e na sociologia, que ignora a produção intelectual de negras e negros e suas contribuições para pensar o país. A ausência nesses espaços é contrastante com a presença no que Winnie chama de “geografia da morte”, uma estrutura que faz com que a maioria negra more em locais que facilitem seu extermínio, seu genocídio, “um projeto de Estado organizado dentro de uma perspectiva racista”.

O racismo e a falta de representatividade de negras e negros em determinados espaços, a violência e a falta de acesso precisam ser percebidos pelas pessoas brancas e isso, de forma alguma, exclui a esquerda. Winnie destacou a falta de negros em direções sindicais e nas organizações políticas, por exemplo, onde as pautas são escolhidas de acordo com sua “relevância”, a tal ponto de questões relativas a negros, mulheres e LGBTs terem de se setorizar para serem abordadas. Há uma “hierarquia que também é racial”, afirmou. A palestrante reiterou que o racismo não é setorial, mas um debate que precisa estar na centralidade.

Na avaliação de Winnie, o Sintrajufe/RS deu um passo importante, buscando refletir sobre o racismo de forma coletiva. Outro passo, afirmou, é que brancas e brancos percebam que a supremacia racial cria estruturas de privilégios e que reflitam, a partir do lugar em que estão, como se colocam e se se colocam na luta antirracista. “A gente é uma nação que não resolveu a questão da escravidão”, afirmou Winnie. Para ela, “a reflexão cotidiana é o que fará com que seja possível avançar, de forma coletiva”, no combate ao racismo.

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