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Nenhum movimento de defesa de negros, índios e mulheres pode ser desatrelado da grande luta contra a exploração capitalista no Brasil

Nenhum movimento de defesa de negros, índios e mulheres pode ser desatrelado da grande luta contra a exploração capitalista no Brasil", diz Oficial de Justiça de Mato Grosso

"Enquanto não combatermos o capitalismo não haverá negros nem mulheres, índios e pobres livres. Só poderemos conseguir, realmente, ter liberdade para todos com o fim da exploração capitalista. É uma luta que se faz no dia a dia, não se faz só no verão, mas ao longo de uma vida". Foi o que disse hoje o ex-coordenador da Fenajufe e ex-presidente do SINDIJUFE-MT Pedro Aparecido de Souza, contextualizando as manifestações contra o racismo que estão varrendo o Planeta desde que um homem negro foi sufocado por um policial branco, dias atrás, nos Estados Unidos.

Que George Floyd não morreu em vão, isso já está bem claro pela repercussão que o assassinato dele teve nos Estados Unidos e no resto do mundo. Mas o Oficial de Justiça Avaliador Federal Pedro Aparecido de Souza observa que, muito embora Estados e Brasil enfrentem o mesmo problema, a discriminação racial no Brasil é bem diferente e muito mais grave, porque as circunstâncias e o cenário são diversos.

No Brasil, segundo ele, ainda temos aquela mediação, de que o racismo não é tão profundo e que negro morre mas branco também morre, "aquela ladainha que a gente conhece, que tem na verdade um extermínio em massa de negros e negras pobres das periferias, há muitos e muitos anos, mas, como a imprensa é toda dominada pelo capital concentrado entre os brancos, passa a impressão que é uma morte acidental e que eles eram culpados, etc. E a gente sabe que nada disso é verdade. Há um extermínio, realmente, pela polícia, a mando e treinamento do capital branco, que manda matar e exterminar".

"Nós temos a pena de morte para negros há muitos anos no Brasil. Há muitos e muitos anos temos pena de morte para negros e negras no Brasil. Espero que, com o tempo, a gente resgate as tradições do império estadunidense e que nós também façamos grandes manifestações quando morrer um negro ou negra, vítima de racismo, pela polícia. Que nós façamos o mesmo que os negros nos Estados Unidos. Eu gosto muito da tradição americana de reação, e acho que a gente está aprendendo. No Brasil, os negros estão resgatando o seu lugar na sociedade", ponderou.

Conforme observou, no Brasil são mais de 350 anos, pessoas escravizadas trazidas na marra, que eram açoitadas e assassinadas, e quando terminou a escravidão formal os negros continuaram escravos. "Após a formalização do fim da escravidão, muitos voltaram da porteira da fazenda, para trabalhar a troco de comida. Não houve indenização por esse crime hediondo que foi cometido contra milhões de negros, pessoas africanas, gente. Portanto, essas pessoas escravizadas e seus descendentes não tiveram as mesmas oportunidades que os brancos tiveram, evidentemente".

Na década de 1970 no Brasil, começou um movimento negro, de resgate de toda a história dos negros, e isso, segundo Pedro Aparecido, é muito importante. "Começou um momento de fala dos negros, e coube a nós ajudar os negros nesta causa, assim como também defendemos outros grupos minoritários, índios, mulheres, movimentos de homossexuais, transsexuais e afins, bem como o pobre, a classe trabalhadora e, principalmente, aquelas pessoas que sempre estiveram nessa linha de frente de luta por todas essas pautas. Coube a nós ajudar o movimento negro nas suas pautas, mas quem tem que estar à frente da fala e dessas manifestações realmente são as pessoas negras".

De acordo com o ex-presidente do SINDIJUFE-MT, estamos passando por um grande momento, de resgate histórico, do que foi esse grande crime cometido contra milhões de pessoas negras, escravizadas, e seus descendentes, que não tiveram nem mesmo as mínimas oportunidades. Um exemplo disso, conforme explicou, está nos cursos de Medicina. "Temos 54% de negros no País, e conhecemos menos de 1% de médicos negros. Também temos poucos juízes negros. Temos poucos milionários negros".

Para Pedro Aparecido, a realidade é que, no Brasil, a riqueza está concentrada nas mãos de brancos bilionários, e os negros ganham menos que os brancos. "Precisamos fazer um resgate histórico. Mas, quanto ao momento que estamos passando, por um fato que "pegou fogo" nos Estados Unidos, ainda temos uma grande diferença dos Estados Unidos. Naquele país, a morte de um negro por racismo é considerada uma afronta à própria democracia, e é por isso que tanto os negros quanto os brancos vão para as ruas, em movimentos de radicalidade e reação, incendiando carros de polícia, enfrentando polícia e queimando as delegacias. Isso já é uma tradição nos Estados Unidos".

"Nos Estados Unidos, há pouco tempo, em 1960, negros não podiam frequentar a mesma praça ou pegar o mesmo ônibus, e se tivesse um negro sentado ele tinha que ceder o lugar para o branco. Na África do Sul, em 1980, praticamente ontem, dentro da história, os negros também não podiam frequentar uma mesma praça dos brancos, nem os mesmos banheiros. Então, o racismo é muito forte tanto no Brasil como nos Estados Unidos, e vai continuar por muitos anos", concluiu.

 

LUIZ PERLATO/SINDIJUFE-MT

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