fbpx

Sintrajud promove seminário sobre prevenção e posvenção do suicídio no dia 27 de setembro

 

 

 

 

Plano lançado pelo governo para enfrentar crescimento de casos não está claro, diz psicóloga; atividade no Sindicato terá início às 19h, com transmissão ao vivo.

No dia 27 de setembro, sexta-feira, a sede do Sintrajud recebe o seminário “Setembro Amarelo e a valorização da Vida – Precisamos falar sobre Prevenção e Posvenção ao Suicídio” (veja programação abaixo).

O mês de setembro é dedicado a uma campanha internacional de prevenção do suicídio e ao debate sobre esse grave problema de saúde pública. O Brasil, que participa da campanha, é o 8º país com maior número de casos, segundo os últimos dados disponíveis, mas muitas ocorrências não são notificadas.

Depois de lançar, em abril, a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, o governo anunciou nesta semana uma campanha de valorização da vida e combate à depressão, com foco no público jovem.

As ações do governo, no entanto, têm problemas de concepção, e a implementação da Política ainda é um ponto obscuro, diz a psicóloga Elis Regina Cornejo na entrevista a seguir. Mestre em Ciências da Saúde pela Unifesp e integrante da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio (ABEPS), Elis também faz parte da equipe do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.

No Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, 10 de setembro, Elis participou da Roda de Conversa organizada pela subsede do Sintrajud na Baixada Santista.

 

Psicóloga Elis Regina Cornejo. (Foto: Coordenadoria de Comunicação Social do Ministério Público do Piauí)

A Lei 13.819, que entrou em vigor em abril, obriga estabelecimentos de saúde e de ensino a notificar os casos de suicídio e de automutilação. Qual sua avaliação sobre essa Lei?

Na verdade, temos a notificação compulsória desde 2011 nos serviços de saúde. O que a Lei trouxe foi um plano nacional [a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio] que torna obrigatório as escolas também notificarem e, mais do que isso, encaminharem os casos para os conselhos tutelares. Isso traz um grande problema, porque sabemos que os conselhos não dão conta da demanda, menos ainda dessa demanda de suicídio e automutilação, em que o autor da violência é também a vítima. Os profissionais da escola também não têm formação para identificar os sinais de tentativa de suicídio, acionar o conselho tutelar e saber o que fazer com essa criança ou adolescente.

A notificação é necessária, porque com esses dados mostramos a importância de políticas públicas para lidar com o problema, mas por outro lado é preciso saber o que vamos fazer como profissionais.

Além disso, o Plano Nacional está embasado em um documento com olhar enviesado, que culpabiliza a família, mas sabemos que a família também demanda cuidado e muitas vezes nem sabe que a criança ou adolescente está se automutilando ou cometendo tentativa de suicídio.

É um documento do Ministério?

Sim. É o que dá embasamento teórico ao Plano Nacional. Na época do lançamento do Plano, nós, do Instituto [Vita Alere], emitimos uma nota e mandamos as indagações para o Ministério, mas até agora não tivemos resposta. De que maneira o sistema público de saúde dará conta dessas questões? Nada está muito claro. Obviamente, ao melhorar a qualidade da notificação, também teremos um crescimento das taxas, mas esse é um processo que verificamos desde 2011, por causa tanto da melhora da notificação como do aumento de casos.

Isso se refere também à automutilação e às tentativas de suicídio?

Exatamente. A notificação compulsória que é obrigatória desde 2011 inclui automutilação e tentativas de suicídio, que são ainda mais subnotificadas, porque a notificação nesses casos depende do serviço de saúde. Muitas tentativas não passam pelos serviços de saúde e, por isso, não constam das estatísticas. Estimamos que para cada suicídio existem 10 a 20 tentativas, mas essa é uma estimativa ainda longe da realidade.

Quais as características do ambiente de trabalho que induzem ao adoecimento psicológico e ao suicídio?

Precisamos olhar essa questão de um ponto de vista mais amplo, de como nos estruturamos como sociedade num molde capitalista, que pensa em produção e lucro constantes, e que muitas vezes faz com que os sujeitos sejam “objetificados”, sejam apenas uma peça dessa engrenagem.

Existe muito também de uma lógica individualista: a sociedade culpa o indivíduo. As pessoas acham normal estender o horário sem ganhar hora extra e quem sai do trabalho no horário correto acaba sendo até mal visto pelos colegas. Transformamos isso num problema individual e não o reconhecemos como decorrente da estrutura do trabalho, que é o que de fato está assediando o trabalhador. Acho que, independentemente do tipo de trabalho, temos uma precarização muito grande, e com isso vamos adoecendo. Trabalhamos muito, em troca de uma promessa de ganho que para muitas pessoas nunca vai chegar.

E quanto ao ambiente político? Temos há alguns anos um ambiente político desagregador, levando as pessoas a romper até laços familiares. Qual o impacto disso no adoecimento psicológico e no suicídio?

Lembro que [o sociólogo Emile] Durkheim pensava muito sobre os laços sociais e no quanto afrouxamos esses laços em períodos de crises, políticas ou econômicas. O sistema capitalista e individualista estimula a competição e afrouxa esses laços.

Sem dúvida, essa polarização política promove suicídios. Como profissional, vejo no consultório desde a eleição [do ano passado] que isso tem trazido muito sofrimento. A separação de famílias talvez seja o ponto extremo, mas isso mostra o quanto o atual projeto de governo desumaniza, acaba com a subjetividade de muitas pessoas, invalida existências. Faço um trabalho, por exemplo, em um projeto para pessoas LGBT e ali vemos que a política atual invalida a existência dessas pessoas. Como isso não vai resultar em suicídio?

Muitas pessoas que passam por sofrimento psicológico usam as redes sociais como um diário. Ao mesmo tempo que isso pode servir para aliviar o sofrimento ou como pedido de ajuda, pode também influenciar negativamente outras pessoas. Pensando nisso, você diria que as redes ajudam ou prejudicam?

É difícil dar um veredicto; existem os dois lados. Nem todo mundo é influenciado, mas para alguém que já está em vulnerabilidade a leitura de um relato [de sofrimento] pode ser um gatilho. Obviamente, num contexto em que se tem ampla divulgação, perdemos o controle de quantas pessoas serão impactadas. Outro aspecto é que as redes são usadas para expressão de uma felicidade que não existe, por pressão da cultura atual. Há pesquisas que mostram, por exemplo, o impacto do Instagram (que trabalha só com imagens) sobre a autoestima de meninas.

Por outro lado, há redes de pertencimento, grupos de apoio e o uso da rede social como instrumento para elaboração [do sofrimento] e de ajuda.

Temos de olhar para o que está na base de tudo isso, ou seja, o tipo de sociedade que estamos construindo. Mas no curto prazo, diante de um governo que corta as possibilidades de existência, as redes sociais talvez sejam também uma forma de resistir, tanto em nível de informação como de mobilização.

 

Confira abaixo a programação do evento promovido pelo Sintrajud no dia 27/9:

 

“Setembro Amarelo e a valorização da vida

Precisamos falar sobre Prevenção e Posvenção ao Suicídio”

Dia 27/09/2019

Local: Auditório do Sintrajud (Rua Antonio de Godói, nº 88, 15º andar, Centro. São Paulo/SP).

19h: Abertura e saudação da diretoria aos presentes

19h20: Painel “Setembro Amarelo e a valorização da Vida – Precisamos falar sobre Prevenção e Posvenção ao Suicídio”

Palestrantes:

Jéssica Silveira – Psicóloga, especializada em Suicidologia, Processos Autodestrutivos e Luto. Membro do Comitê Permanente de Prevenção ao Suicídio da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). Coordenadora e Facilitadora do Grupo de Apoio aos Sobreviventes Enlutados por Suicídio de Campinas e Região.

Ivo Oliveira Farias – Sobrevivente Enlutado pelo Suicídio, militante e ativista em prol da Prevenção e Posvenção ao Suicídio, Depoente e Palestrante em Simpósios e Congressos sobre o Tema, Mediador de Roda de Conversa, e Coordenador do Grupo Luta em Luto de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio, em Santos, na subsede do Sintrajud.

Rosmary Sá – Coordenadora do Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio do CVV Abolição e Voluntária porta voz do Centro de Valorização da Vida – CVV.

*Haverá transmissão ao vivo da atividade.

 

Sintrajud/SP
Hélio Batista Barboza

 

 

 

 

 

Pin It

afju fja fndc