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Cenário de desmonte dos serviços públicos preocupa Servidoras de Mato Grosso no Dia da Mulher

Cenário de desmonte dos serviços públicos preocupa Servidoras de Mato Grosso no Dia da Mulher

Neste Dia da Mulher, a maior angústia das Servidoras do Judiciário Federal em Mato Grosso, sob a ótica de duas Servidoras ouvidas pelo SINDIJUFE-MT, é com relação à questão salarial. As entrevistadas descrevem a conjuntura atual do Brasil agravado pela pandemia, em que os servidores públicos estão sendo encurralados num processo de desmonte dos serviços públicos, e segundo elas as perspectivas são péssimas.

"Penso que as perspectivas, infelizmente, não são boas. Temos um congresso e um governo contra nós e tudo depende de nossa união para que não nos desmantelemos e os servidores me parecem sem fôlego. Sei que já fomos massacrados, mas sabemos que o país precisa de nós, sabemos do nosso trabalho e precisamos estar juntos novamente". Este é o entendimento de Otília Alencastro, Servidora da Justiça Federal.

Para Otília, a questão salarial é motivo de grande preocupação, porque a Categoria está com o salário defasado. "Isso nos impede de conquistar alguns sonhos, tais como o meu de ter a casa própria", explicou.

Avaliando a condição da mulher na sociedade atual, Otília disse que o preço da evolução, para as mulheres tem sido alto demais. " Não posso dizer que não evoluímos, mas me parece que essa evolução tem um preço e é mais violência. Me parece que o mundo teima em não nos deixar crescer e nos reprime ainda mais, porém somos a maioria e temos muito gás".

Ainda assim, Otília transmite esperança, e a chave para a mulher dar conta do recado em suas múltiplas funções, conforme declarou, é a organização. "Temos que nos organizar, ter horários bem definidos e torcer para nada dar errado.Na pandemia cresceu o medo pela segurança da família e de todos que nos rodeiam. A forma de trabalhar, no início, foi estranha, mas muito boa, o teletrabalho deu segurança e nos deu uma nova perspectiva de trabalho. Sei que alguns colegas tiveram dificuldades, assim como eu no começo, mas o que fazer se o vírus está por aí. Precisamos defender a nossa família e hoje já consigo trabalhar bem.

Situação tenebrosa

Os ataques contínuos aos Servidores Públicos também preocupam Júlia Viñe, Servidora da Justiça Eleitoral. E ela lembra que a situação está na iminência de piorar, com a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32/2020, da Reforma Administrativa, e com a PEC Emergencial (PEC 186/2019), que será votada ainda nesta semana, congelando salário dos servidores, além de proibir promoções, progressões e concursos em troca de nova rodada do auxílio emergencial com valor ínfimo.

 

Para Júlia, a situação está se mostrando bastante tenebrosa. "Se as coisas não mudarem, se os servidores não acordarem, e perceba que já somos em poucos. Muitos já estão aposentados, e os que permanecem ativos não têm interesse em lutar por seus direitos, porque tem, por exemplo, a questão dos cargos em comissão que já estão congelados. Ou seja, se os servidores e as servidoras não acordarem nós seremos os últimos num mundo de terceirizados. Serão vários profissionais diferentes trabalhando numa instituição pública, geridos talvez por chefes que não serão gestores públicos, algo muito perigoso para o país. Então eu vejo assim. As pespectivas são muito ruins, até mesmo de melhorias.Como que vai melhorar pra mulher se está piorando para ambos os sexos, para os servidores públicos em geral?"

"A mulher, como todos sabem, tem dupla jornada de trabalho. Além de ter a casa para zelar, maridos e filhos, muitas vezes elas ainda têm os pais para cuidar, e á medida que vamos envelhecendo nossos pais também exigem maior atenção e cuidados médicos. Isso também vale em relação aos filhos e marido. Por outro lado, no caso das servidoras públicas, elas têm muitas responsabilidades de trabalho e exigências. Por isso eu penso que deveria haver um olhar mais compreensivo com as servidoras em geral".

Ainda segundo Júlia, da mesma forma como aconteceu em relação à pandemia, que não reagimos e hoje estamos pagando o preço, também acontecerá com o desmonte do serviço público. "O servidor público está sendo encurralado e tende a desaparecer. Com isso, o servidor público será prejudicado, é claro, mas a população é quem mais perderá", concluiu.

Visão monocular

Neste Dia da Mulher, a Servidora da Justiça Federal de Mato Grosso, Maria Vilany dos Reis Irene, aguarda com ansiedade o desfecho de uma questão que, segundo ela, abrirá caminho para cidadania, dignidade humana e respeito para ela e muitos servidores públicos. Trata-se do Projeto de Lei 1615/19, do Senado Federal, que classifica a visão monocular (cegueira de um dos olhos) como deficiência sensorial visual para todos os efeitos legais.

Este projeto já foi aprovado pelo Legislativo e nesta semana deve ser apreciado pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro. Com várias ações administrativas e judicial em defesa de Sindicalizados, o SINDIJUIFE-MT e um grupo da Categoria na mesma condição da Vilany contam com a sanção presidencial.

Atualmente, a visão monocular não é considerada deficiência por lei federal, mas já é classificada como deficiência visual para fins de aplicação da Lei de Cotas. Além da nova classificação, o projeto obriga o Poder Executivo a criar instrumentos de avaliação desse tipo de deficiência.

 

Para Vilany, seria uma atitude do Presidente que viria a corrigir muitas injustiça sofridas por ela enquanto Servidora, e pelos monoculares de todo o país.
"Eu que sou mulher, arrimo de família, dois filhos e duas netas que dependem de mim, é muito difícil suportar muitas restrições no dia a dia. Se você é monocular significa que te falta a visão, a percepção de profundidade, o tamanho e a distância dos objetos. Eu, por exemplo, parei de dirigir porque descobri que eu via os carros longe de mim, quando na verdade estavam perigosamente próximos".

Vilany é monocular do olho direito e teve catarata no esquerdo. "Fiquei quase que totalmente cega por um bom tempo, e a cirurgia de catarata não resolveu....se eu tivesse o outro olho bom, não estaria aqui sem poder dirigir, trabalhar, cozinhar, etc. Desenvolver minhas atividades como uma pessoa normal". Por causa disso, ela está afastada pela perícia desde dezembro de 2019, sem perspectivas de retorno ao trabalho, porque a cada dia que passa o olho, que era bom, piora. Foi o que a Servidora revelou ao SINDIJUFE-MT, depositando suas esperanças na possibilidade de sanção presidencial do PL 1615/19. "Seria uma bela coisa, sobretudo para as mulheres na minha situação, na semana da mulher", concluiu.

 

Luiz Perlato/SINDIJUFE-MT

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