Luta por respeito e dignidade de mulheres lésbicas começou na ditadura; ainda hoje elas são invisibilizadas e mortas pelo preconceito
O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica celebrado dia 29 de agosto, surgiu a partir da realização de um seminário ocorrido em 1996. O encontro foi idealizado por mulheres homossexuais com o objetivo de afirmar representatividade e para discutir preconceito e violação de direitos a que são submetidas.
O evento deu início à luta por respeito, direito a livre orientação sexual e contra a discriminação lesbofóbica no Brasil. No país, a cada hora uma pessoa LGBTQIA+ é vítima de violência. Destas, 32% são mulheres lésbicas. Os dados são de pesquisa realizada pelo Sistema Único de Saúde,(SUS) em análise aos registros de ocorrências de violência.
Além da busca por respeito a data é também resistência. Desde o período da ditadura mulheres lésbicas se movimentam contra o preconceito. Em 1983 ao serem impedidas de divulgarem uma publicação sobre a temática dentro de um bar em São Paulo, ativistas promoveram uma grande manifestação que foi comparada a “Revolta de Stonewall" ocorrida nos Estados Unidos em 1969 e que deu origem a maior manifestação LGBTQIA+ do planeta. (Parada Gay de Nova iorque)
O dia 29 de agosto é uma data para se debater a ausência de políticas públicas de inclusão e representação delas na sociedade, para se discutir a importância do combate às várias formas de discriminação sofridas pelo segmento e de enfrentamento ao patriarcado que tanto mal faz e que move todas as opressões.
As mulheres homossexuais figuram como as maiores vítimas da violência de gênero. Dados do "Grupo de pesquisa Lesbocídio - As histórias que ninguém conta" sobre lesbocídio no Brasil,apontam que houve aumento no número de assassinatos e também de suicídios decorrentes da condição de ser lésbica nos últimos três anos. A pesquisa revela ainda que as negras são as mais atacadas e representam 43% das mortes.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) alerta e sugere que os dados alarmantes possam ser ainda piores. De acordo com o Fórum, muitos estados omitem os registros ou os repassam de forma incompleta evidenciando inconsistência nas informações. Isso é considerado pelos pesquisadores como uma maneira de "apagar" a existência dos crimes e reforça o descaso do estado.
Falar de lesbofobia assim como do preconceito voltado aos segmentos de outras orientações sexuais que envolvem os gays, travestis, bissexuais e transexuais é falar de vidas construídas a partir do medo. Medo de ser quem se é.
Alimentado pelo ódio, o crime motivado pelo preconceito contra lésbicas tem um nome: lesbocídio. Diferente do que acontece com o feminicídio, ele ainda não carrega em seu conceito a tipificação de crime. Isso porque, na maioria das vezes não é possível identificar legalmente que a motivação do crime foi a orientação sexual da vítima.
Para além da promoção da visibilidade, a data repudia os casos diários de violência cometidos contra pessoas pelo simples fato de existirem. É preciso criminalizar sentimentos de hostilidade e desdém expressos com o propósito de negar e repudiar a sexualidade dessas mulheres.
Vale ressaltar que o governo Bolsonaro aprofundou atitudes discriminatórias com as minorias. Quase diariamente são registrados casos violentos de ódio contra pessoas LGBTQIA+ e negras, para citar apenas dois segmentos.
É visível a tentativa de invisibilizar e apagar a existência de muitas destas mulheres que encontram na luta a forma de existir, reexistir e resistir.
Contexto histórico:
Rosely Roth
Ativista foi pioneira na luta pelos direitos da mulher lésbica no Brasil e sua atuação humanística é respeitada no mundo acadêmico. Rosely participou da primeira manifestação de lésbicas em 1983 e liderou o protesto no Ferro`s Bar, quando foram impedidas de distribuírem a publicação com abordagem sobre o tema.
Suas contribuições de luta são consideradas marcantes e importantes para o movimento. A conscientização e reivindicação por respeito, visibilidade e cidadania para mulheres lésbicas iniciadas por Rosely são seguidas até hoje. A militante suicidou-se em 1990.
Joana Darc Melo, da Fenajufe