Chegamos a mais um 8 de Março – Dia Internacional da Mulher! São inegáveis as conquistas alcançadas até aqui não com pouca luta, suor, sacrifícios e muitas vidas ceifadas. Por outro lado convivemos com um governo misógino que muitas vezes nos atordoa com tantos absurdos e retrocessos e ainda há muito para ser mudado.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos que deveria ser uma voz atuante em defesa das mulheres e outras minorias se mobiliza apenas para desconstrução e desinformação.
Dia após dia nos chocamos com a violência e é evidente que o discurso de ódio incrementa e fortalece as agressões já naturalizadas. Por aqui ainda é “aceitável” violentar e matar mulheres para defender a “honra” ou porque o macho se sentiu afrontado pelo fato de outro indivíduo usufruir seu legitimo direito de ser o que é ou de manifestar suas potencialidades em plenitude e com liberdade.
Durante a pandemia os casos de violência doméstica cresceram assombrosamente e um cenário que já era terrível piorou para as mulheres trancadas em isolamento com seus agressores no que deveriam ser lares. Pensar no incremento de demandas que a Pandemia trouxe para todos e ainda ter que lutar contra a violência dentro do lugar que deveria ser um local de acolhimento e proteção é devastador.
Apesar desta realidade desoladora devemos celebrar e exaltar a luta daquelas que nos antecederam e garantiram as conquistas que hoje usufruímos apesar dos pesares e de que para algumas os benefícios dos sucessos nunca chegaram: difícil acesso à saúde e educação para mulheres do campo, indígenas e periféricas, muitas meninas ainda são retiradas da escola para se dedicaram a trabalhos domésticos, ainda há gravidez e casamento infantil muitas vezes antecedidos de violência sexual, as negras permanecem sendo a base da pirâmide espoliada, trans continuam sendo alvo de escárnio, são violentadas e mortas em uma naturalização doentia à “moda brasileira” e etc.
nImportante também mencionar que nos últimos dias ouvimos estarrecidos a fala grotesca do deputado Arthur do Val “Mamãe Falei” que é um misto de misoginia com comportamento vira-lata e racista que só considera apreciável aquilo que vem de uma origem branca e europeia. É importante enfatizar que o dono da fala é o Deputado mais votado de São Paulo na última eleição e o quanto isto diz sobre nossa sociedade e uma história de desvalorização e
exploração de corpos não brancos. O parlamentar em questão e seu partido nunca esconderam muito o desprezo por mulheres e outras minorias, a questão é que agora todo o pensamento amoral e deletério foi desnudado sem camuflagem e fica difícil até para os que pensam igual – e não se enganem há muitos – apoiá-lo a luz do dia.
Tudo isto é aterrorizante e aterrador mesmo assim seguimos em movimento e cada vez mais unidas nos fortalecendo e encarando as batalhas que uma sociedade ainda extremamente machista e patriarcal nos impõe.
Nenhuma violência seja física, psicológica, desumanização, desvalorização de qualquer mulher é aceitável e devem ser veemente rechaçadas e desnaturalizadas!
Neste contexto a celebração e rememoração das vitórias alcançadas unindo gerações de mulheres em luta e movimento é de suma importância – “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer” – Conceição Evaristo.
No ano de 2022 – que já iniciou nos petrificando com a continuidade
da Pandemia, catástrofes ambientais que poderiam ter sido amenizadas com atuação esperada do Estado, guerra com possibilidade de transformação em um conflito mundial – juntemos nossas forças e comemoremos os 90 anos de conquista do Direito ao voto pelas mulheres*, a vida e a trajetória de todas que lutaram, abriram os caminhos e de todas nós que estamos agora em uma época de tantos desafios movendo a máquina da história e ESPERANÇANDO um futuro melhor para nós, as próximas gerações e pela humanidade em geral.
Deixar pra trás o sistema patriarcal opressor não beneficia só as mulheres, mas o conjunto da humanidade e a nossa luta sempre foi neste sentido: a construção de uma sociedade justa, igualitária e sem conflitos violentos.
Simone Oliveira é servidora do TRT da 2ª Região (SP)
*24/02/1932 – Código Eleitoral (Decreto nº 21.076), que garantiu oficialmente às mulheres acima de 21 anos os direitos de votar e serem votadas no Brasil.
Primeira eleitora brasileira a professora Celina Guimarães votou pela primeira em 1927.
Primeira política eleita a prefeita de Lajes, Alzira Soriano, que assumiu o cargoem 1929.
Ambas naturais do Rio Grande do Norte.
Artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, as ideias ou opiniões da Fenajufe.