Em mais um ataque à Justiça Eleitoral e tentativa de gerar dúvidas sobre o resultado das eleições marcadas para outubro, Bolsonaro defendeu uma “apuração paralela” que seria realizada pelas Forças Armadas.
Oficiais da ativa, ouvidos pelo o jornal O Globo (29/04), dizem que a proposta para a criação de uma sala para o Exército sequer faz sentido, pois criaria uma “instância superior” ao Tribunal Superior Eleitoral; já o Ministério da Defesa, disse que não se manifestaria.
Em agosto de 2021, Bolsonaro já havia defendido a tutela militar sobre a democracia. Em reunião com militares, declarou: “Nas mãos das Forças Armadas, o poder moderador. Nas mãos das Forças Armadas a certeza da garantia da nossa liberdade, da nossa democracia e apoio total às decisões do presidente para o bem da sua nação”.
O Sintrajufe/RS representa os servidores e servidoras da Justiça Eleitoral no Rio Grande do Sul e entende esses ataques de Bolsonaro como ofensas também à categoria, que acaba sendo vista como parte da suposta (e falsa) fraude que Bolsonaro tenta imputar ao processo eleitoral. O sindicato já moveu, inclusive, ação judicial para buscar impedir a repetição desses ataques e ameaças, mas o TRE-RS ainda não tomou sua decisão.
A seguir, a diretora Márcia Coelho e o diretor Edson Borowski, servidora e servidor da Justiça Eleitoral, trazem suas perspectivas sobre o caso em depoimentos. Apontam a tentativa de deslegitimar as eleições e também ressaltam a segurança e confiabilidade das urnas eletrônicas e da apuração. Leia abaixo:
“Trabalho a quase 16 anos na Justiça Eleitoral, sempre consciente da responsabilidade de trabalhar em um órgão extremamente vital para o exercício da cidadania e da democracia de nosso país e com muito orgulho da qualidade e confiabilidade do serviço prestado”
A preparação das urnas eletrônicas começa muito antes das eleições. A elaboração dos sistemas passa pelos mais rigorosos processos de codificação, inspeção e auditoria, onde diversas entidades públicas e privadas podem participar.
No período eleitoral, são realizados diversos testes de funcionalidade de sistemas e de equipamentos. Até o dia de hoje, nenhum estudo, tentativa de invasão ou hackeamento conseguiu alterar um voto digitado na urna eletrônica.
Mas as declarações do chefe do Executivo nada têm de técnica ou de conhecimento. São colocações que pretendem disseminar na população desconfiança em relação ao sistema de votação, e já percebemos seus efeitos nas hostilidades recebidas por servidores e servidoras quando do atendimento ao eleitor.
Afirmar que “uma bifurcação” do sistema de apuração vai permitir que as Forças Armadas garantam a veracidade do resultado divulgado pelo TSE é nada mais, nada menos do que demonstrar inconformidade com um possível resultado desfavorável. Devolvo o questionamento ao Executivo: quem garantirá a veracidade do seu resultado? Os servidores da Justiça Eleitoral não podem calar frente às acusações de fraude, não vamos ser ofendidos por quem foi muitas vezes eleito por esse sistema e hoje o desqualifica.” (Marcia Angelita Coelho)
“A Justiça Eleitoral, ao longo de todos os processos eleitorais, tem aprimorado a segurança do processo, tanto na questão das urnas eletrônicas quanto das auditorias. E esse processo está avançando em 2022, justamente para garantir mais e mais segurança.
A expertise, a inteligência da Justiça Eleitoral dá conta de todos os processos necessários para garantir a lisura, enquanto as Forças Armadas têm a expertise para outras atividades que não a eleição. Então, cada um deve atentar às suas responsabilidades institucionais. As Forças Armadas são para cuidar da segurança nacional. Para cuidar das eleições, já tem uma instituição, que é a Justiça Eleitoral.
Imaginar que as Forças Armadas possam fazer qualquer controle paralelo sobre o trabalho da Justiça Eleitoral é algo muito absurdo e que só incentiva colocar em xeque as eleições em uma tentativa desesperada de golpe contra a democracia no Brasil.
O que nós estamos verificando é um prenúncio e anúncio cotidiano de tentativa de golpe contra a democracia. Não é contra as eleições, é contra a democracia, contra o Estado Democrático de Direito e contra o povo brasileiro. Destruir a imagem da Justiça Eleitoral não é apenas uma estratégia eleitoral, mas um golpe contra o povo brasileiro e a democracia no Brasil” (Edson Borowiski)