Jair Bolsonaro mais uma vez desrespeitou a vida ceifada de pelo menos 220 mil mortos vitimados pela Covid-19 no Brasil, incluindo a mais de 70 mortes sabidas, até o momento, de servidores e servidoras no Judiciário da União (Federal e Estadual) e MPU, que também tombaram em decorrência da pandemia.
Durante evento em Brasília, na quarta-feira, Bolsonaro disse que a pandemia do novo coronavírus “pode ser fabricada” e ainda desdenhou dos pedidos de abertura de impeachment de que é alvo na Câmara dos Deputados, ridicularizando o Congresso Nacional.
“Nós continuaremos nessa cadeira até o final de 2022, tenham certeza disso. Não adianta falar que tem 40 processos de impeachment, Roberto Jefferson (presidente do PTB, no almoço ao lado dos sertanejos como Naiara Azevedo), porque se juntar todos, não dá nada. Absolutamente nada. Propostos por partidos de esquerda como o PT, PCdoB e PSOL ou até mesmo a OAB não levam a lugar nenhum a não ser para causar transtorno e tentação na sociedade”, vociferou o presidente.
As declarações chegam em meio à maior crise do governo Bolsonaro, à véspera da eleição que vai definir o comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e que podem blindar de vez o presidente da República e seus filhos, suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas e assassinatos no Rio de Janeiro, além de desvios de dinheiro público e nomeações em cargos públicos, para receber parte do salário dos nomeados, segundo investigações do MPF, MPE/RJ e da Polícia Federal.
Somada ao descaso com que o presidente tem tratado os mortos pela covid-19 em todo o país, principalmente no Amazonas, a situação mostra que para Bolsonaro, as vidas perdidas são irrelevantes.
“Moça Gate”
“Vão pra puta que o pariu. Enfiem no rabo de vocês essas latas de leite condensado aí. Vocês aí da imprensa”. Foi essa a resposta de Bolsonaro às evidências de desvio no “carrinho” do Planalto, ao ser questionado por jornalistas durante evento em Brasília, um dia após as divulgações de desvio de dinheiro público com a compra, pelo governo federal, de R$ 15 milhões em leite condensado e R$ 2,2 milhões em chicletes.
O fornecedor, em Brasília, segundo o Portal da Transparência – que foi retirado do ar nesta quarta-feira, 28 – é a empresa Saúde & Vida Comercial de Alimentos Eireli, de Azenate Barreto Abreu, casada com o pastor Elvio Rosemberg da Silva Abreu e mãe de Elvio Rosemberg da Silva Abreu Júnior.
Os detalhes do negócio escuso foram levantados pelo jornalista Fernando Boscardin e publicados em seu perfil, no Twitter. Leia aqui.
“Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei 2 milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que o pariu, imprensa de merda! É pra enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado”, despejou o presidente acuado, enredado pelas evidências de compras superfaturadas.
Segundo apuração prévia, o estabelecimento que teria fornecido o lote milionário de leite condensado ao governo, pertence à mãe de um pastor. A suspeita, segundo apurado, é que seja ligada a algum deputado do centrão.
O ataque à imprensa foi proferido durante evento em Brasília, em uma churrascaria “fechada” para receber convidados. Participaram os cantores Netinho, Naiara Azevedo, Amado Batista e Sorocaba, o pai do jogador Neymar, além dos ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Gilson Machado (Turismo), Fábio Faria (Comunicações) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
A internet não poupou críticas. Para alguns, a frase seria totalmente normalizada se “dita num balcão de uma birosca encardida no escuro de algum lugar no fundo do mundo”, ironizou um jornalista no Twitter. “Aliás, uma birosca encardida no escuro de algum lugar no fundo do mundo. Eis aí um cantinho excelente para se mandar esse velhaco que usurpou a Presidência da República”, continuou.
Até o meio-dia da quarta-feira no Twitter, a hashtag #BolsonaroCorrupto liderou os trending topics nacionais. Mas a atuação dos robôs em meio à crise elevou a hash #SouCristaoSouBolsonaro ao topo dos trendings entre 19h e meia-noite.