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COMO CAVAMOS A PRÓPRIA SEPULTURA

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Em contrapartida, me veio algo na cabeça: eu nunca vi juiz pedir aumento de trabalho. Alguém já viu?! alguém já viu alguma entidade de magistrados - AMATRA, AJUFE, AMB - proporem algo para aumentar o trabalho dos seus representados?! Se viram, me fale. Eu, não.
 
Nunca vi juiz reclamando que "só faz sentença", "só faz audiência", e pedindo pra fazer curso para "aumentar suas capacidades". Suas demandas são sempre por benefícios. E por que? simples, por que eles não acham que trabalham pouco. Eles não tem medo de serem chamados de "marajás" ou "vagabundos" pela opinião pública. Eles acham que fizeram muito para chegar lá e que já trabalham muito. .Já nós....
 
Estive acompanhando as propostas para a nossa carreira, das entidades e de colegas da categoria para a próxima plenária da FENAJUFE, de 23 a 26/11/23. Tem muitas propostas de benefícios, mas tem outras que poderiam muito bem ter sido propostas pelas Administrações do Tribunais ou pelas organizações que promovem o espírito empresarial no serviço público, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Vamos lá.
a) Proposta do coletivo "Democracia e Luta" para nos proteger contra a automação - "Lutar pela criação de programas de qualificação profissional para o desenvolvimento de novas habilidades e competências." - Os companheiros esquecem que se o quem vem por aí é inteligência ARTIFICIAL, não adianta se qualificar mais. Se a questão fosse qualificar mais O SER HUMANO não se trataria de inteligência ARTIFICIAL, mas inteligência NATURAL. Portanto, vai se qualificar mais à toa, arranjar mais estudo e mais trabalho, ALÉM DO QUE JÁ TEM e não vai adiantar nada, se o futuro é o uso do AI. Como somos estáveis, a automação não trará demissões. O que poderá trazer é a desnecessidade de novos concursos para trazer novos seres humanos e a perda do nosso poder de pressão para aumento salarial. Portanto, a questão é aumentar os benefícios agora, até que ele predomine, haja vista que a Justiça ainda depende do ser humano para funcionar. Essa história de aumentar habilidade e competência retrata bem o "complexo de vagabundos" que conseguiram nos implantar.
b) Proposta de colegas ligados ao SINJUFEGO (sindicato de Góias) - "5. Por isso, pleiteamos o apoio, o investimento e o empenho das nossas Entidades e da Administração dos Tribunais, na aplicação de subsídios financeiros para a capacitação profissional dos servidores públicos do Poder Judiciário.
 
A proposta aqui provém desse mesmo sentimento de que se faz pouco - o "complexo do vagabundo". Pensam os colegas que nos qualificando mais, seremos mais valorizados (financeiramente?). Mas isso só é certo se a qualificação for vinculada a algum aumento, tal como o adicional de qualificação. Sem isso, o que se consegue é oferecer mais trabalho pela mesma remuneração, aguardando que, um dia, talvez, vejam que merecemos mais! Não há qualquer proposta de benefícios. Apenas, de aumento de trabalho;
c) proposta de colega ligado ao SISEJUFE (sindicato do RJ) - "Este documento toma como base a necessidade de se atualizar, numa futura proposta de Plano de Cargos e Salários, as atribuições e competências relacionadas ao cargo de Analista Judiciário / Área Administrativa, considerando-se a defasagem em relação ao corpo da Lei 11.416/2006" .
Mas aqui é que tá a pérola: "este documento não tratará de questões remuneratórias,..." . De acordo com o autor do texto, a plenária não é o "fórum adequado" para isso. Seria adequado para tratar de trabalho!
 
Os motivos dessa proposta são: "a atualização acima mencionada se revela crucial para garantir que os Tribunais mantenham-se parelhos (sic) à constante evolução da sociedade e do ambiente jurídico.
E aí vem as propostas detalhadas, que segundo ele é para valorizar o analista judiciário:
 
c.1 - Mudanças Legislativas - "Novas legislações podem introduzir novas responsabilidades..." - novos trabalhos
"...aprimorar as existentes para garantir um serviço eficaz" - novas competências - novos trabalhos. Aprimorar as existentes - para produzir mais.
 
c.2 - Tecnologia e Inovação - " A introdução de novas ferramentas e sistemas requer que os servidores adquiram habilidades atualizadas e estejam aptos a utilizar as tecnologias disponíveis para otimizar processos." - atualizar habilidades para otimizar os processos. Aumento de trabalho.
 
c.3 -Adaptação às necessidades da sociedade - "Isso pode envolver a criação de novas competências para lidar com questões emergentes ou,
 
c.4 - Especialização e Diversificação - "A diversificação das atribuições pode ser necessária para cobrir uma gama mais ampla de casos." - aumentar as atribuições, ou seja, aumentar o trabalho.
 
c.5 - Capacitação e Desenvolvimento - "Atualizar as competências e atribuições abre espaço para programas de treinamento e desenvolvimento que ajudam os servidores a adquirirem novas habilidades. Isso é essencial para mantê-los capacitados e motivados."
 
- Atualizar competências, programas de treinamento e novas habilidades. Para trabalhar mais. E diz que isso é essencial para nos manter motivados. Sempre achei que fosse dinheiro e benefícios que nos motivasse.
d) Proposta de colegas ligados ao SITRAEMG (sindicato de MG) - " Um dos primeiros aspectos que se observa obsoleto na organização judiciária atual e que vai de encontro à implementação de novas tecnologias na rotina das tarefas judiciárias - mais precisamente com a implantação do processo judicial eletrônico- PJe - é a lotação limite de analistas judiciários por Varas Federais." E prosseguem: " Essa velha estrutura de distribuição da força de trabalho permite que uma boa parte da capacidade produtiva advinda desses profissionais especializados - utilizada na elaboração de minutas/pareceres de sentenças, decisões e despachos - fique subutilizada, ao manter os analistas judiciários encerrados em suas lotações, vinculados tão-somente a uma única Vara Federal em que se encontra lotado." E terminam: " A limitação da atuação do atual analista judiciário – área judiciária (analista jurídico – área judiciária/Consultor Judiciário – Especialista Direito/Assessor Jurídico – Area Judiciária) na sua Vara de lotação inviabiliza o aproveitamento do potencial de trabalho desses profissionais especializados, que constituem uma força de trabalho extremamente qualificada e especializada, em outros gabinetes de diferentes Varas Federais, Turmas, Seções, etc... "
 
Olha, a empresa não teria feito melhor! Os colegas querem que os analistas trabalhem para várias unidades!
 
As propostas revelam uma ingenuidade - "quanto mais trabalho eu mostrar, mais vão ver que eu mereço ganhar mais". Alguma vez foi assim? e já não se faz muito? e não seria o caso de se exigir a inclusão da nossa carreira nas carreiras típicas de Estado pelo que já fazemos, ao invés de procurar mais trabalho para quem sabe, um dia, estejamos lá? pensar em mais trabalho para nós, diante do que já se faz só é possível a quem tem o "complexo de vagabundo".
 
Alguém vê os magistrados propondo mais trabalho para serem valorizados?
É assim que se cava a própria sepultura.
 
Ninguém precisa correr atrás de mais trabalho, qualificação, desenvolvimento, etc. A empresa já faz isso por nós. O que se requer é foco nos direitos.
   David Cordeiro é Analista Judiciário, lotado no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região - TRT - 1.

** Artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, as ideias ou opiniões da Fenajufe.

 

 
 
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