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Pretas e Pretos: último dia de debates raciais é marcado por emoção e resistência  do povo negro

Pretas e Pretos: último dia de debates raciais é marcado por emoção e resistência  do povo negro

Encerramento do encontro nacional aprova moção de repúdio ao jornal " o Estadão" por divulgar imagem de cunho racista

Encontro Nacional de Pretas e Pretos se encerrou neste domingo(27) com o debate do “enegrescimento” da Federação. A mesa de discussão ficou sob o comando da comissão organizadora composta pela coordenadora geral Sandra Dias e os coordenadores Luiz Cláudio Correa e Jaílson Lage, das coordenações de Combate às Opressões e  de Formação Política e Sindical, respectivamente. Da última mesa de debates participou ainda a servidora Patrícia Fernanda dos Santos – militante antirracista, representante do coletivo de Negras e Negros da Justiça Federal/RJ.                                            

 Antes de dar prosseguimento nas discussões do dia, a mesa anunciou a construção de uma moção de repúdio ao jornal "O Estado de São Paulo"  por usar imagens de mãos negras para ilustrar matéria sobre o atentado à duas escolas ocorrido na sexta feira (25) em Vitória /ES. A prática criminosa resultou na morte de 4 pessoas e teve como autor um adolescente branco, filho de militar. Para os participantes, essa foi mais uma forma evidente de acentuar o racismo estrutural tão enraizado na sociedade e por isso foi consenso em repudiar essa e toda e qualquer manifestação racista.

Os debates raciais reiniciaram com a apresentação de um documentário produzido pelo Sindicato dos Trabalhdores do Judiciário no estado do Rio Grande (Sindjus/RS),estado reconhecidamente racista, e foi cedido pela Fenajud. O DOC mostrou dificuldades, preconceito e racismo revivenciado pelos personagens. Importante registrar que os personagens, hoje, na maioria são servidores do Judiciário.

O tema "Enegrecendo a Fenajufe: desafios da auto-organização dos pretos e pretas no movimento dos(as) trabalhadores(as) do judiciário - limitações, experiências e tarefas", trouxe  emoção nos participantes.

A coordenadora Sandra reviveu momentos de sofrimento ao relatar situações de racismo vivenciados por ela. Situações idênticas foram compartilhadas pelo coordenador Luiz Cláudio. Sandra considerou importante o debate racial na categoria e principalmente nas instâncias da Fenajufe.

A dirigente lembrou que ao ser eleita  como coordenadora geral no último Congrejufe,  afirmou  que iria provocar o debate racial dentro da Federação.“Minha intenção  era  trazer esse protagonismo das negras e negras para dentro da Fenajufe”e que espera estar “conseguindo trazer isso de forma mais presente. Para ela o “enegrecer a Fenajufe  traz muitos desafios além de mobilizar a categoria" e reconheceu que a pauta identitária dentro da atuação  sindical é "esvaziada e menosprezada". A dirigente é a primeira ccordenadora geral  de pele preta da Federação que completa 30 anos de existência no próximo dia 08 de dezembro.

Luiz Cláudio relembrou que enxergou no concurso público a opção de proporcionar “vida melhor para a família” e os direitos que o trabalhador da iniciativa privada não tinha. O coordenador relatou da dificuldade que negros negras enfrentam para estudar e passar em concurso público."Temos que encontrar tempo e estudar dobrado para disputar uma vaga com o branco que só estuda para ser aprovado enquanto nós, temos que trabalhar". Luiz falou de racismo estrutural existente nas instituições e ressaltou o descumprimento de resolução do CNJ que institui cotas raciais para ingresso nos órgãos do PJU, inclusive para contratação de terceirizados, mas que nem assim, as cotas são ocupadas por pretos e pretas.

Segundo ele,essas vagas são preenchidas através de indicação  de “gente do alto escalão” e que quem ocupa são pessoas brancas. "Lutar para garantir o cumprimento da resolução é um papel da Federação. Essa oportunidade de Justiça social está sendo roubada dentro do serviço público, dentro do Judiciário e precisa acabar",concluiu. 

O coordenador considerou também muito importante o debate de questões raciais na Fenajufe, mesmo reconhecendo as dificuldades enfrentadas para a realização do encontro.O coordenador relembrou ainda que as cotas de paridade de gênero e raça na direção da Federação só foi implantada no XXI Congrejufe realizado esse ano,na cidade de Alexânia em Goíás. 

Jaílson Lage, considerou muito importante a realização do Encontro e afirmou que a Fenajufe "está no caminho certo" das discussões. O dirigente parabenizou as mulheres presentes que registraram o maior número de participantes. Jaílson reforçou  a relevância de tanto a Federação quanto os sindicatos filiados de levar o compromisso de promover o debate racial na base, "só assim para fortalecer o combate ao racismo e às desigualdades" . O dirigente defendeu que a Fenajufe passe "a aplicar a contratação de trabalhadoras  e trabalhadores observando o perfil racial da sociedade brasileira"

Patrícia Fernanda, servidora da Justiça Federal do Rio de Janeiro encerrou o debate ressaltando a importância  da existência de um Coletivo Negro dentro das organizações. Segundo ela,"um lugar onde o racismo não nos distraia de fazer o que precisa ser feito. Não que a gente deixe de sofrer, mas para sofrermos juntos". A servidora afirmou que o racismo estrutural promove solidão e reafirmou que a solidão "é uma das piores facetas da dor, a solidão multiplica o sofrimento".

A militante antirracista é mentora  e criadora do Coletivo de Negras e Negros em seu local de trabalho. Ela alertou ainda ser de extrema importância "conhecermos as normativas já existentes no Judiciário, assim como leis e tratados internacionais, instrumentos para que nossa luta antirracista seja executada".

 

 As propostas foram apresentadas pelos representantes dos sindicatos ao final dos debates e após lidas e consensuadas pelo plenário, serão encaminhadas para análise da diretoria executiva da Fenajufe.

Conheça algumas  delas:

  • Plenário aprovou Moção de reúdio sobre matéria do jornal “ O Estadão” que usou uma imagem de mãos negras para ilustrar o atentado realizado por homens brancos no estado do estado do Espírito Santo;
  • Que a Fenajufe passe a aplicar a contratação de trabalhadores observando o perfil racial da sociedade brasileira;
  • Criar o Coletivo Nacional de Pretos e Pretas da Fenajufe ;;
  • Que no ano de 2023, o encontro de  Pretas e Pretos ocorra na semana da Consciência Negra - dia 20 de novembro;
  • Oficinas culturais nos próximos encontros;
  • Criação de um núcleo de Pretos e Pretas em cada sindicato;

        Joana Darc Melo

 

 

 

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