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Por que fazer a greve? Ou por que não a fazer?

Não Publicado

Por Job de Brito, técnico judiciário no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)

Este artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta necessariamente a opinião da diretoria da Fenajufe

(Indagações a Deodoro Silva de Araújo sobre seu texto“Fazer greve é preciso”)

Deodoro, em seu texto publicado no site da FENAJUFE, em 29.8.2014 diz: “muito se falou nestes dias acerca das diversas razões para que alguns de nós não somassem suas forças a esta greve: [entre elas estariam] medo, vergonha, comodismo, sentimento de estar fazendo algo errado, [...] de que sua presença é desnecessária ou [de] que esse tipo de movimento [...] vai dar em nada”.

Pelo fato de ele não ter relacionado, entre as razões discriminadas, uma que se aplica ao meu caso, resolvi tecer este texto. A razão que explica minha não adesão é esta: o movimento sindical tem, como seu objetivo maior, nos dias atuais, não os interesses de sua categoria, mas, subjacente à sua atuação, depara-se com um interesse de classe. A luta do movimento sindical se organizou em torno de interesses ideológico-partidários, predominantemente de esquerda. Dentro desse movimento, há uma disputa ferrenha entre facções esquerdistas (divisões do próprio PT, ou vinculadas ao PSTU, PSOL, PC do B etc) pelas instituições sindicais. A razão de tal disputa é para, vencendo, ter nos sindicatos instrumentos para a atuação político-partidária de caráter revolucionário, comandados pela perspectiva ideológica do vencedor.

Nesse sentido, impõe-se esta indagação: é possível a um rebanho seguir seu ‘pastor’, em havendo, entre as ‘ovelhas’ que o integrem, a consciência de que ele não as conduz para ‘verdes pastos’, mas para o matadouro? Est’outra indagação se impõe também: como ler a formalização[1] de apoio à candidatura de Dilma por parte da Central Única dos Trabalhadores (e de outras), Central à qual boa parte de nossos sindicatos são filiados? Não se pode fugir dest’outra: em um eventual segundo turno entre Dilma e qualquer outro candidato, de que lado estaria o movimento sindical cutista, conlutista, ctbista?

Há que relação entre a razão aqui apresentada para “não somar forças a esta greve”, a declaração de que “subjacente à atuação do movimento sindical depara-se com um interesse de classe” e as indagações acima? Esta é a espinha dorsal da reflexão aqui apresentada, a qual quer se concluir com duas últimas indagações – aqui antecipadas: Deodoro, que certeza você tem de que o seu chamamento feito às ‘ovelhas’ para que sigam o ‘pastor’ vai proporcionar-lhes alimento, em vez de torná-las alimento? Que certeza você possui de que o caminho é para ‘pastos verdejantes’ e não para o ‘matadouro’?

Desloquemo-nos pela “espinha dorsal” dessa tessitura de palavras.

A cultura política nacional tem consciência de que, majoritariamente, o movimento sindical é refém do marxismo. Tem consciência disso e de que o pensamento marxista, ainda que tenha abandonado o caminho da revolução política, nem por isso deixou de ser revolucionário. Traz em seu dna o interesse por uma sociedade mais “justa e igualitária”. Diferente de nossa constituição federal[2], todavia, não inclui entre seus objetivos o de construir uma sociedade livre. A supressão da liberdade como valor constitutivo da cultura marxista torna-a uma cultura política hipócrita, falsa, manipuladora e, quando descobertos os seus ardis, violenta – extremamente violenta – e intolerante com a diversidade de pensamento. No marxismo diversidade é sinônimo de adversári[edade]. E adversário é sinônimo de inimigo; inimigo é, para o marxismo, sinônimo de capitalista morto. O pensamento único é característica intrínseca ao marxismo.

Lembro-o, leitor, de que o marxismo é a cultura dominante do movimento sindical em geral e, mais especificamente, do PJU. E esse pensamento único está centrado em um único objetivo (talvez por ser único o pensamento): organizar a totalidade dos trabalhadores para formarem uma classe unificada e unida para tomar o poder estatal (federal, estaduais e municipais), com interesse inarredável pelo poder central – o totalitarismo jamais deixará de estar presente no pensamento marxista revolucionário!

A essência do sindicalismo marxista, portanto, é o engajamento em uma luta político-partidária pelo poder estatal federal. Essa é a finalidade do movimento sindical nos dias atuais. Por isso, formalizam-se os apoios das centrais sindicais à reeleição de Dilma Rousseff. O interesse desse movimento não está em representar os interesses da categoria; está em conquistar o poder central.

Por isso, Deodoro, refaço-lhe as perguntas que lhe foram antecipadas acima: Deodoro, que certeza você tem de que o seu chamamento feito às ‘ovelhas’ para que sigam o ‘pastor’ vai proporcionar-lhes alimento, em vez de torná-las alimento? Que certeza você possui de que o caminho é para ‘pastos verdejantes’ e não para o ‘matadouro’?


[1] https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=cut+formaliza+apoio+a+dilma

[2] Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República  Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

[...]

 

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